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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Crô em Família' é comédia sem sal, sem graça e sem propósito


O personagem Crô caiu na boca do povo com a novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva. Dono de uma personalidade forte, de costumes muito característicos e fruto de uma interpretação de ponta de Marcelo Serrado, ele ganhou vida própria com o tempo e saiu da TV. Em 2013, assim, ganhou o seu primeiro espaço nas telonas em Crô -- O Filme e, agora, cinco anos depois, conquista mais atenção com a sequência Crô em Família.

Enquanto o primeiro filme é uma sequência direta do que foi visto na novela, tendo vastas referências ao longo da história, o novo Crô em Família tenta sair desse escopo. Para isso, a diretora Cininha de Paula (Duas de Mim) assume a direção no lugar de Bruno Barreto e cria todo um universo dentro daquele personagem. Há as amigas do salão de etiqueta, a governanta séria e justa e, claro, a família que ressurge anos depois.

No entanto, o clima de televisão continua persistindo. Ainda que Cininha de Paula faça uma brincadeira no início do longa-metragem, afastando a câmera de uma TV que exibe antigas imagens do personagem, está tudo ali: a linguagem, o ritmo desacelerado, a forma de enquadrar as situações. É, em suma, o "núcleo suburbano da novela" -- por mais absurdo que seja esse rótulo -- que ganha vida própria numa série de clichês e fórmulas.

A história, por exemplo, é batidíssima: Crô está na mídia após terminar com seu antigo namorado e acaba alvo de uma jornalista de fofocas (Monique Alfradique). Ela, por sua vez, acaba publicando uma nude de Crô que mostra uma mancha na nádega. A partir disso, um grupo de oportunistas (Arlete Salles, Tonico Pereira, dentre outros) vai direto pra casa do protagonista para tentar tomar seu dinheiro não importe as consequências.

Os clichês, dentro dessa trama, saltam na tela e machucam a audiência, que assiste passível às fórmulas que se repetem. É a falta de etiqueta dos "suburbanos", as gírias gays que são jogadas na tela, as situações sem pé e sem cabeça que fazem o público engolir em seco e fingir que acredita naquilo tudo. Pode até divertir crianças, por conta do humor ingênuo que nasce disso, mas só. Difícil algum adulto achar graça naquilo ali.

Marcelo Serrado está bem e a química dele com Arlete Salles -- que, curiosamente, também estava em Fina Estampa -- é o que mais dá certo no longa. Uma dancinha que os dois fazem de vez em quando causa riso genuíno. A revelação Jefferson Schroeder é outro que dá espaço para risos espaçados -- ainda é difícil se segurar no "oh meu deus!" e no bombeiro Brian. Mas é só. Rosi Campos, Tonico Pereira e vários outros atores de calibre não encontram espaço para mostrar ao que vieram. Desperdício de bom elenco.

Algumas participações especiais também podem divertir, como uma festa que conta com Gominho e David Brazil, além das boas cenas envolvendo Marcus Majella e Luis Miranda. Eles são ótimos e possuem boas tiradas -- principalmente uma envolvendo um pote.

Nas questões técnicas, tampouco as coisas funcionam. Muitas cenas são jogadas, quase sem explicação. Há erros básicos de continuação, tendo até cenas de roupas trocadas, de cores completamente opostas. Personagens vêm e vão para outros lugares com uma facilidade ridícula. E um momento, que pausa para fazer propaganda de uma rede de chás, causa vergonha alheia. Era melhor arranjar um momento melhor para aquilo tudo.

Crô em Família tem um humor tão ingênuo e tão insípido que deve servir para as crianças rirem -- e olha lá, já que os desenhos estão cada vez mais ácidos e espertos. É um filme de nicho, pra poucos, e que deve entediar grande parte do público que busca uma comédia pra rir sem se preocupar com o amanhã. É bom saber parar. Crô ainda não soube. Afinal, já deu -- e passou -- da hora do personagem entrar na aposentadoria.

 
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