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  • Amilton Pinheiro *

Filmes do Festival de Brasília retratam movimentos políticos


Os dois filmes exibidos nesta terça-feira, 18, na mostra competitiva do Festival de Brasília, podem ser classificados, de forma apressada, como filmes reivindicatórios. Isto é, longas que se concentram em registrar lutas civis por direitos a moradia em Belo Horizonte, no caso do curta Conte Isso Àqueles Que dizem Que Fomos Derrotados, ou o pleito de uma categoria, no caso do longa Bloqueio, quando caminhoneiros paralisaram estradas de 24 estados e do Distrito Federal para exigir, entre outras coisas, diminuição do preço do óleo diesel.

Bloqueio, de Quentin Delaroche e Victória Álvares (RJ/PE), registra um dos piquetes, dos caminhoneiros, no Rio de Janeiro. Com aquele micro cosmo do que foi a paralisação, o documentário consegue, entre imagens das manifestações daquele local, e depoimentos reveladores, dar conta da confusão caótica e difusa que foi a paralisaram da categoria.

No debate que aconteceu na manhã de quarta, 19, no hotel do festival, os diretores revelaram que ficaram apenas nos últimos três dias da grave, e filmaram nove horas de material bruto – o longa tem 75 minutos.  Uma proeza, ainda mais para um filme que conseguiu registrar naquela manifestação, além das reivindicações dos caminheiros; que passava pelo tabelamento dos preços do óleo diesel, a não cobrança do pedágio por eixo suspenso dos caminhões, etc, uma insatisfação maior.

O que os diretores registraram, além das pautas básicas daquela manifestação, foi um movimento que atrelou outras insatisfações, como a intervenção militar como medida para solução a corrupção e o descrédito a política tradicional. O filme registra frases pedindo a volta dos militares e caminhoneiros falando que a solução do caos que o país atravessa, passa pela volta deles. Um dos pontos altos do filme, é quando um dos manifestantes, que elogiou anteriormente os militares, é ignorado por dois soldados, que não dão atenção ao que ele fala. Ele olha para câmera e reclama da arrogância daqueles rapazes, no que é questionado por alguém da equipe do filme. Ele responde de prontidão. “Mas não temos outra solução”. Ou seja, “Mesmo sendo ruim, é melhor com eles, no caso, os militares”.

Um filme oriundo do registro dessa urgência revela muito mais as contradições que atravessam nosso País atualmente do que muitos tratados sociológicos. O incômodo vem dos depoimentos que os diretores conseguem tirar daqueles caminhoneiros, que pedem a volta da ditadura que foi tão nefasta para o País. Mas ao mesmo tempo, temos a consciência da legitimidade dos que eles reivindicam, mesmo que ela esteja incorporada inadvertidamente a quem menos pode saná-la.

* O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasília

 
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