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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Julho Agosto’ faz retrato sobre família moderna

Atualizado: 11 de jan. de 2022


A sociedade mudou, as relações entre as pessoas se transformaram e, é claro, a família também mudou. Isso foi retratado no cinema em Homens, Mulheres e Filhos, por exemplo, e na TV com a série Modern Family, que está na oitava temporada. Agora, chega a visão da França sobre a família moderna com o filme Julho Agosto, dirigido por Diastème, e que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 13.

A trama acompanha as irmãs Laura (Luna Lou), 14 anos, e Joséphine (Alma Jodorowsky), 18 anos, que se dividem entre a casa da mãe e a casa do pai, separados há pouco tempo. Neste meio tempo, porém, elas precisam encarar algumas novidades em suas vidas, como o padrasto endividado, a gravidez da mãe, a casa do pai e todos problemas que cercam esta nova configuração na família.

O roteiro do longa-metragem, escrito pelo próprio Diastème, divide a trama em duas partes, entre os meses de julho, quando as irmãs ficam com a mãe, e agosto, com o pai. É possível entender o sentimento de cada uma delas, compreendendo o que as incomoda em cada novidade, em cada novo passo que seus pais dão. É divertido comparar o comportamento entre as partes, vendo o que cada um prefere e o que sente.

E nesta divisão, o diretor francês acaba criando dois filmes diferentes. Na primeira parte, o drama é centrado em Laura, que não consegue aceitar a presença do padrasto e, muito menos, a gravidez da mãe -- que rende uma cena extremamente forte. Seu comportamento rebelde é colocado ao extremo e, aos poucos, vai sendo descortinado ao espectador seus motivos.

Neste momento, a estreante Luna Lou consegue brilhar em seu papel, colocando todas as emoções em sua personagem. Apesar de causar certo desconforto para parte da audiência, principalmente por conta de certos atos vazios de sua personagem, ela consegue passar a essência de seu desconforto perante a situação -- quer você concorde ou não -- e também as amarguras da idade. É bom ficar de olho em seus futuros papéis.

Quando parte para o outro lado do filme, que mostra a relação com o pai, a história acaba se concentrando em Joséphine, adolescente indo para a vida adulta e que começa a entrar em novas experiências. Apesar de ser mais contida e menos impactante do que a atuação de Luna, Alma Jodorowsky (coadjuvante de Azul é a Cor Mais Quente) consegue transmitir o que a sua personagem passa, sente e deseja.

Pena, porém, que a trama central desta segunda parte, que é apenas pincelada no começo do filme, seja a relação de Joséphine com um grupo de jovens aventureiros, que navegam em águas francesas para ganhar alguns trocados e se aproveitar de turistas desatentos que por lá circulam. Nenhum ator ou personagem no grupo convence, fazendo com que toda a história perca força.

Afinal, todo drama é deixado de lado e relações familiares viram segundo plano por conta de uma confusão envolvendo a adolescente e o grupo. Erro primário do diretor, que deveria ter deixado a trama policialesca apenas como história paralela, para que acontecesse uma interligação entre a história do pai e da mãe. Seria interessante ver mais da relação entre as duas irmãs e o pai. Faltou sensibilidade.

Ao final, porém, Diastème recupera o fôlego com o retorno à casa da mãe e com o fim de uma situação que foi inserida no começo do filme -- e que teria tido muito mais impacto se tivesse continuidade na história do pai, quando o assunto nem é mencionado. Há elementos de drama familiar e Luna consegue arrancar algumas lágrimas, apesar do pouco carisma de sua personagem.

Por fim, fica clara a sensação que Diastème tinha uma pérola em mãos, mas não soube utilizá-la. Faltou apuro na história e uma boa dose de sensibilidade, tornando o filme muito arrastado em sua segunda metade e com uma história que não convence e não causa emoção alguma no espectador, ainda que haja, no fundo, uma trama delicada sobre as relações familiares na modernidade -- e uma ótima pedida para assistir nas férias escolares.


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