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  • Foto do escritorMatheus Mans

'O Pior dos Crimes', livro do caso Nardoni, é turbilhão de emoções


Desde que começaram a pipocar as primeiras histórias sobre o assassinato da menina Isabella Nardoni, em 2008, dezenas de emoções estiveram envolvidas. Emoções por ser um crime brutal cometido contra uma criança, pelo mistério que circunda as versões dos fatos até hoje, pela cobertura midiática exagerada e com toques sensacionalistas. E o livro-reportagem O Pior dos Crimes, do jornalista Rogério Pagnan, não tem medo de mergulhar de cabeça nesse mar de emoções e contradições que circunda a história até hoje.

Pagnan acompanhou o caso dos Nardoni desde o início, quando toda a imagem do crime ainda estava envolta de uma espessa neblina de dúvida, medo, preocupação e angústia. Ele também esteve presente nos primeiros desdobramentos, no julgamento, no clamor popular que ordenava a prisão do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. E também permaneceu investigando depois que a Justiça deu o caso por encerrado, mesmo com dezenas de inconsistências pairando no crime e deixando uma fagulha de dúvida.

É a partir de toda essa experiência -- e emoção -- que Pagnan se aprofunda no livro O Pior dos Crimes, do Grupo Editorial Record. Com uma postura fria e distante, sem tomar partido de nenhum dos lados da equação, o repórter conta, de maneira literária e pouco cansativa, tudo que se passou na história dos Nardoni. Desde as primeiras reações no London, edifício onde foi cometido o crime, passando pela estruturação da defesa e da investigação policial, e até chegar ao julgamento e a vida do casal no cárcere. Tudo bem detalhado.

Ao contrário de outros produtos literários e audiovisuais que já abordaram o caso, como a série Investigação Criminal e o livro Casos de Família, de Ilana Casoy, há uma preocupação genuína em tornar toda a história mais fluída, prática e que cause um diálogo com o público. O vídeo mostrado incessantemente na série, feito pela perícia, por exemplo, é um dos alvos de questionamento de Pagnan, que mostra como a história pode não ser tão clara assim. Ele abre cada detalhe, expõe ao leitor e deixa que cada um se decida.

Alguns detalhes revelados pelo jornalista são trazidos à luz, também, de maneira inédita. Não se sabia, por exemplo, que policiais tinham escalado o muro dos fundos do prédio -- informações, aliás, ignorada pela própria investigação. Há, também, relatos bem mais detalhados e com informações que não foram reveladas pela mídia, como da vizinha e advogada que ouviu gritos diferentes dos relatados e pessoas desacreditadas em seus depoimentos.

É uma verdadeira pintura, em formato de thriller, que se derrama pelas mais de 330 páginas do livro-reportagem, não deixando espaço para que contestações do que está sendo escrito surjam no decorrer do caminho. Muitos, aliás, reclamam que o autor não deu a devida atenção é cuidado à história de Ana Carolina Oliveira, a mãe biológica de Isabella, criando até dúvidas quanto à sua participação na histórias. Mas aqui abro um parênteses e emito minha opinião pessoal e direta: é isso que precisa ser feito. Apurar sem certezas.

O Pior dos Crimes é um livro tenso, emocionante, surpreendente, bem escrito. Fácil de devorar e com uma leitura ágil, ele clareia alguns dos pontos mais obscuros desse crime que ainda perturba e deixa um cheiro de mistério no ar. Indispensável para quem quer saber mais sobre o caso e descobrir uma boa leitura jornalística.

 
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