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  • Domenico Minervino

Paulo Coelho renova suas histórias femininas com 'A Espiã'


Confesso: eu já li Paulo Coelho. Andava com seus livros de um lado para o outro, sem nenhuma vergonha, sem nenhum pudor. Em uma dessas andanças, há um bom tempo, recebi um conselho de um grande amigo jornalista: "não faça isso. Paulo Coelho é para ler em casa. Veja, todos leem. Eu também leio, mas ninguém precisa saber disso. Ande com Marx, Saramago, Kundera debaixo do braço, mas deixe o 'bruxo' para outra ocasião”.

Estranhei. Afinal, ele é o escritor brasileiros mais lido no mundo. Está em mais de 170 países e já foi traduzido para 81 idiomas. Ultrapassou a marca dos 210 milhões de livros vendidos. Imortal, escolhido pela Academia Brasileira de Letras em 2002 e vencedor de diversos prêmios literários. E eu deveria evitá-lo!

Mas dessa vez não deu pra esconder. Paulo Coelho lançou o seu mais recente trabalho, chamado A Espiã. E eu saí da livraria com um exemplar novinho, pronto para saber sobre a vida de Mata Hari. Confesso que, até então, não tinha nenhum interesse por essa figura emblemática da história mundial. Eu fiquei, então, me perguntando os motivos de Paulo Coelho escolher uma dançarina para fazer uma biografia. E mais: por que estava eu comprando esse livro? Até agora não sei. Será feitiço? Lança-se um novo Paulo Coelho e a gente compra?

No final, li em um dia e meio. Somando-se as horas dariam umas quatro. Rápido. Cento e oitenta páginas que passam voando. A leitura flui, não é uma obra amarrada, chata, daquelas que não vão para frente ou que enrola o leitor. Pelo contrário, é agradável e convidativa. “A espiã” não é uma biografia, mas um romance delicado de uma mulher à frente do seu tempo, que usou seu corpo para ganhar notoriedade, fama, dinheiro, poder e que pagou um preço caro depois de enfrentar os costumes da época. É também um retrato da sociedade francesa no final do século XIX, da belle époque, do momento cultural e político europeu.

Paulo Coelho também consegue costurar muito bem a trama. Relembra personalidades como Oscar Wilde e Nijinsky, mas peca ao produzir esse livro na primeira pessoa. Afinal, ele coloca a própria Mata Hari como narradora. Ela expõe sentimentos e angústias. É da boca dela que sai palavras que talvez nunca tenha dito ou, de sua cabeça, pensamentos que ela nunca tenha tido. É uma escolha extremamente perigosa. A incerteza de que aquilo realmente aconteceu dá ao

leitor a sensação de tudo ser falso, dentro de uma história real.

Ainda assim, quem já teve contato com as obras femininas do autor (como Brida e As Valkírias), com suas heroínas, ainda terá uma certeza ao final de A Espiã: saberá que essa talvez seja a melhor das mulheres já escritas por Paulo Coelho. E isso, para mim, não é pouco.

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