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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Más notícias para o Sr. Mars' faz paródia com homem moderno

Atualizado: 11 de jan. de 2022


Pense em coisas calmas. Um bicho-preguiça, uma fonte de água, o barulho da chuva. Agora, pense em pessoas calmas, que não se irritam com nada. Pessoas que nunca se abalam ou que nunca se sentem incomodadas. Pensou? Agora, multiplique toda a calma dessas coisas e pessoas e você saberá como é a vida de Philippe Mars, homem que dá título ao filme de comédia franco-belga Más Notícias para o Sr. Mars, que estreia esta quinta-feira nos cinemas brasileiros.

Na história, acompanhamos Philippe Mars, um homem impassível e que quer agradar todos ao seu redor: filhos, a ex-esposa, vizinhos e colegas de trabalho. No entanto, parece que o universo conspira contra ele. Os seus filhos mudam radicalmente e se afastam, a vizinha tem problemas psicológicos e o colega arranca um pedaço da orelha de Mars ao lançar um cutelo em sua direção. Assim, na tentativa de agradar, Mars fica sozinho e sem ninguém para compartilhar suas dores e sofrimentos.

Com esta premissa, o filme trabalha em cima da paciência de Mars. Até quando ele vai aguentar? Quando ele vai jogar tudo para cima, se irritar e mostrar sua visão de mundo para as pessoas ao seu redor? É quase como uma comédia de erros com os irmãos Coen, como O Grande Lebowski ou Fargo. Afinal, o personagem só quer viver a sua vida, fazer as suas coisas, mas nada dá certo.

Além disso, o roteiro, apesar de parecer preguiçoso em alguns pontos, trabalha de maneira direta e concisa para tornar Mars uma paródia do homem moderno. Afinal, ele é educado e polido para impedir que a sociedade o faça sofrer — algo como o filósofo Sérgio Buarque de Holanda disse em seu homem cordial. Ele parece impassível, mesmo quando está sofrendo, apenas para que todos ao seu redor, que estão em constante transformação, não afetem sua vida, seu estilo e seus gostos.

E essa visão francesa, e em tons de paródia, é corajosamente defendida pelo ator François Damiens, que já tinha brilhado no filme A Família Bélier, como o pai de família surdo. Com o seu olhar, o ator francês consegue mostrar que, apesar da falta de reação, ele está atento ao que acontece e, por vezes, preocupado. O único problema é que não consegue externalizar por medo de sofrer consequência. É uma atuação contida, mas que contém uma intensa carga dramática.

Toda a história, ainda, é potencializada quando Mars decide abrigar o colega de trabalho — e que lhe cortou um pedaço da orelha — debaixo de seu próprio teto. Neste momento, vemos o homem moderno entrar em colapso por ficar próximo de uma pessoa intensa. Ao invés de apenas agradar, Mars começa a participar de inúmeras situações absurdas e que o tiram de sua zona de conforto.

No entanto, no final, o filme não se decide e não consegue desenvolver esta premissa criada. O diretor, Dominik Moll (do ótimo Harry, He's Here to Help) trafega entre o non-sense, o drama e a comédia de erros e a indecisão acaba lhe custando a qualidade de seu filme, que não consegue se aprofundar nas discussões que traça e fica flutuando na superfície. A história acaba se tornando chata e sem sentido. Uma pena. Afinal, o longa tinha elenco e premissa prontos para brilharem com uma ótima história.

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