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  • Foto do escritorMatheus Mans

‘A voz do morro sou eu mesmo, sim senhor’


Na manhã desta sexta-feira, 3, fui surpreendido por uma notícia muito triste para a música brasileira: morreu o cantor e compositor Luiz Melodia. De acordo com os boletins médicos, o músico carioca estava enfrentando um câncer na medula, logo depois de tratar um AVC que sofreu em 2016. Infelizmente, ele não aguentou. A família noticiou a morte, triste após um luta longa e dolorosa.

No entanto, fica na memória de todos os seus fãs a alegria, a inteligência e a descontração de Melodia. Ainda que o verso do título deste texto não seja de sua autoria, mas sim de Zé Keti, ele traduz muito do que Luiz Melodia foi -- e ainda é, para muitas pessoas. Em um momento em que o Brasil se dividia, o carioca pegou a melodia do samba do morro e levou para o mundo. Fez seu nome, sua carreira.

Melodia, porém, não fez apenas samba. Fez a mistura de ritmos que todo brasileiro gostaria de ouvir. Seu álbum de estreia, o clássico Pérola Negra, é um típico disco de samba, mas que não é samba. E ele não o é por vergonha. Não, pelo contrário. No disco, o músico carioca quis sintetizar o Brasil, a música. É o samba ligado ao tropicalismo, ao blues, à Bossa Nova. É lirismo e morro em uma única composição.

E com isso em mente, Luiz Melodia construiu uma carreira sólida e extremamente plural. Em seus shows, não cantava apenas Zé Keti e Estácio Holly Estácio. Ele cantava de jovem guarda até rock’n’roll -- cheguei a ir num show onde Melodia cantou com Arnaldo Antunes, o ex-Titãs. Ele era o músico sem preconceitos, e que fazia um trabalho limpo, agradando fãs e crítica.

Por tudo isso, a sua perda é inestimável para a música brasileira. Poucos artistas, hoje em dia, conseguem traduzir a mistura brasileira como Melodia. Com muita sensibilidade, era um artista que trilhou o seu caminho próprio, mas que reverenciava antigos -- e novos -- nomes da MPB. Era o artista que não tinha medo de arriscar, de experimentar, de ousar. Ele era o que a música precisa hoje em dia: coragem e alegria.

Luiz Melodia se vai, mas fica a sua obra. Eterna, como sua voz. E que sua música continue a inspirar os brasileiros e, principalmente, os novos músicos que surgem no cenário da MPB e da cultura nacional.

Afinal, neste momento, acima de tudo, o Brasil precisa de muito mais Melodia. Muito mais.

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