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Foto do escritorMatheus Mans

Arnaldo Antunes impressiona -- de novo -- com ótimo 'RSTUVXZ'


Precisei checar duas vezes pra ver se o serviço de streaming estava tocando Arnaldo Antunes, de fato, quando comecei a escutar o novo álbum RSTUVXZ. Afinal, ainda que o ex-Titã sempre tenha deixado claro que gosta de transitar entre gêneros, ele nunca tinha produzido um samba "tão samba" quanto na primeira faixa do disco novo. É pandeiro, surdo e cavaco, apenas com uma guitarra com sintonizador entrecortando os versos.

O objetivo de Arnaldo, porém, vai ficando claro conforme avançamos no disco -- e entendemos que as duas primeiras letras do álbum se referem ao "R" de rock'n'roll e ao "S" de samba. É um disco "bipolar", como ele mesmo disse em entrevistas por aí, que experimenta a união de gêneros que parecem tão díspares, mas com tanto em comum na musicalidade -- não é à toa que Arnaldo trabalha sempre nos dois ritmos em sua carreira solo.

Esses aspectos comuns entre os estilos ficam claros na maneira que Arnaldo costurou o repertório. A já citada A Samba, que abre os trabalhos, é um samba clássico, quase que batido no prato. Já a seguinte, Se Precavê, começa com um surdo forte e se transforma numa rock'n'roll quase gritado, ao estilo Titãs, mas com um pé no tema da juventude -- assim como grande parte desse novo álbum, que transpira jovialidade em seus temas.

O bom entrosamento de temas, costurados por uma linha imaginária muito firme e concisa, dão um destaque crescente ao álbum. Enquanto A Samba e Se Precavê são apenas razoáveis, Amanhã Só Amanhã mostra um experimentalismo interessante uma cadencia de um samba mais de roda, mais primal. Eu Todo Mundo é um rock questionador, muito forte e jovem, enquanto o samba Também Pede Bis é o destaque do álbum.

Pense Duas Vezes Antes de Esquecer é uma canção mais musical, com refrão mais forte e sem muita força na letra, mas que cumpre seu papel e, junto com a dupla Quero Ver Você/It's Only Rock'n'Roll encerra bem uma primeira parte mais bem definida do álbum. Depois, afinal, Arnaldo passa a misturar mais os gêneros e o samba não fica mais tão samba e o rock, seguindo o mesmo caminho, não fica mais tão rock assim.

Tem soul (na boa Serenata de Domingo), tem ritmo caribenho na dançante De Trem, De Carro ou A Pé, forte experimentalismo poético em Céu Contra o Muro e, até mesmo, canção de ninar com a bonitinha -- mas péssima para fechar o álbum -- Orvalhinho do Mar.

É uma mistura "arnaldiana" que faz muito sentido pra sua trajetória e que se integra muito bem dentro de seus trabalhos mais recentes. Ainda que tenha menos hits que outros álbuns, é mais um passo para a consolidação definitiva do artista na memória musical brasileira. Afinal, é preciso arriscar pra isso. E Arnaldo, de fato, arrisca.

 

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