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Foto do escritorMatheus Mans

As histórias por trás das marchinhas de Carnaval


Nos últimos anos, o Carnaval começou a recuperar algumas tradições. Os blocos de rua ganharam força em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, com opções para todos tipos de público -- há as festas para quem quer encontrar parceiros, outras para quem só quer dançar ou se divertir com a família, e por aí vai. E, com isso, as marchinhas voltaram a receber atenção.


Ainda que não seja frequente o surgimento de novas músicas no estilo marchinha, com tempos contemporâneos, as clássicas são entoadas com força nas ruas -- independente do público ser velho, novo, de família. É uma tradição brasileira, que ganhou seu primeiro exemplar lá em 1889, com Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga. Chiquinha, aliás, merece mais atenção do que recebe.


Aqui, então, vamos contar algumas histórias por trás de composições já clássicas do Carnaval brasileiro. Afinal, não adianta: vem ano, vai ano, as marchinhas permanecem na boca do povo.


Cabeleira do Zezé

Talvez seja a mais polêmica hoje em dia -- e não é pra menos, já que há um tom homofóbico que incomoda. Mas continua sendo cantada por aí, nas ruas e cidades do Brasil. A ideia de questionar a sexualidade do Zezé por conta de sua cabeleira partiu do apresentador e ator Roberto Faissal e do músico João Roberto Kelly. A dupla trabalhava na extinta TV Excelsior, no Rio de Janeiro, e nos intervalos das gravações frequentavam o bar São Jorge, em Copacabana. Lá, o garçom José chamava a atenção com um cabelo grande, incomum nos idos de 1964. Por isso, acabou chamando a atenção da namorada de Kelly. Com ciúmes e para fazer piada com a cabeleira do tal garçom, a dupla começou a compor a imortal marchinha Cabeleira do Zezé.


Pierrot Apaixonado

Composta pelo gênio Noel Rosa e por Heitor dos Prazeres, a marchinha Pierrot Apaixonado pegou emprestada a história do triângulo amoroso entre Pierrot, Arlequina e Colombina da Commedia dell’Arte, gênero teatral do século XVI, na Itália. Na história original, que serviu de inspiração, o Pierrot é um serviçal pobre que se apaixona pela dama de companhia Colombina. No entanto, uma pena: a moça só tem olhos para o Arlequim, um servo debochado e preguiçoso.


A Jardineira

Música que gerou uma intensa briga nos bastidores. Composta por Benedito Lacerda e Humberto Porto, A Jardineira foi sucesso imediato. O autor, afinal, já quera bem-quisto na comunidade musical brasileira e a marchinha ganhou interpretação de Orlando Silva -- cantor, chamado de "o rei das multidões", que rivalizava com Francisco Alves, "o rei da voz". No entanto, um ano depois do lançamento em 1938, um problema: a imprensa começou a alardear de que a música era do povo, popular, já cantada muito antes de Lacerda e Porto. Depois virou bagunça. Dezenas de pessoas alegaram autoria. A história completa está muito bem contada AQUI.


Mamãe eu Quero

História divertidíssima. O cantor e compositor Almirante, amigo dos compositores Jararaca e Vicente Paiva, contava que deu ruim quando foram gravar a canção, lá nos idos de 1937. Segundo ele, a música era pequena demais para pegar uma faixa do disco. O que fazer? Repetir as estrofes? Nada disso. Começaram a papear no meio da música, o registro ficou para a posterioridade. E, estranhamente, nenhum dos três envolvidos gostava da qualidade da marcha.


Me dá um dinheiro aí

Curioso como muitos associam esta marcha ao apresentador Silvio Santos -- afinal, usou durante anos em seu programa. Mas, na verdade, Me Dá um Dinheiro Aí foi gravada no finalzinho dos anos 1950 por Moacir Franco e composta por Ivan, Homero e Glauco Ferreira. O curioso, porém, é que o termo saiu pela primeira vez do próprio Moacir: num quadro no A Praça da Alegria, ele fazia o papel de um mendigo que clamava "me dá um dinheiro aí!". O comediante, ator, apresentador e músico, assim, percebeu a sonoridade e chamou os irmãos Ferreira.


A pipa do vovô


Clássico na voz de Silvio Santos, a canção foi composta por Manoel Ferreira e Ruth Amaral, dupla mais popular entre os compositores carnavalescos -- muito por conta da força do "dono do Baú". Muitas vezes perguntaram para Silvio qual o significado da canção e ele se esquivou das respostas, como é tradicional do apresentador. Antigamente, porém, ele dizia que iria falar sobre o real significado da marcha no último sorteio da Tele Sena. Ele nem deve lembrar mais...


BIBLIOGRAFIA: Dicionário da Música Brasileira, Dicionário do Samba e História do Carnaval Carioca.

 
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