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  • Foto do escritorMatheus Mans

'Bazar dos Sonhos Ruins' traz pílulas de genialidade de Stephen King


Já disse dezenas de vezes que acho Stephen King um gênio. Ele consegue transitar entre diferentes gêneros de histórias sem perder a vivacidade de sua escrita, seja em dramas lacrimosos (À Espera de Um Milagre), um verdadeiro horror (O Iluminado) ou histórias de criaturas (Christine). E melhor: King também não perde a sua vivacidade literária mesmo com pequenos fragmentos. Seus contos, geralmente, são inteligentes, vívidos e, na maior parte das vezes, aterrorizantes.

A coletânea O Bazar dos Sonhos Ruins é o ótimo exemplo disso. Reeditado há pouco pela Suma, o livro reúne vinte contos de King, que variam em diversos gêneros, formatos e até tamanho. Mas o melhor de tudo, é que o autor conta, antes de cada uma das histórias, sua inspiração para o que está escrito. É maravilhoso saber dessas histórias antes, como uma conversa com King, pois ajuda na imersão da trama e a entender como aquela história foi construída.

O primeiro conto já é um acerto em cheio: Milha 81 é Stephen King puro. Com ares de seu romance Christine e de Buick 8, a historieta mostra o ataque de um carro assassino à um grupo de pessoas. Há uma espetacular criação de personagens e o desenrolar da história tira o fôlego. Os contos que se seguem também são ótimos: Premium Harmony sobre um casal com problemas - com um desfecho incrível -- e Batman e Robin tem uma discussão, que é lindo.

King volta a apresentar um livro impecável, porém, com os sensacionais Duna e Garotinho Malvado. Ambos são King como estamos acostumados: no primeiro, um evento misterioso numa ilha ganha contornos sádicos e tem uma reviravolta final genial. É de cair o queixo. É Garotinho Malvado, porém, que chamou completamente minha atenção: King consegue criar um personagem assustador com punhados de características e diálogos. Dá medo e é muito fascinante.

Depois desse quinteto de grandes contos, porém, infelizmente, o livro começa a decair um pouco: Uma Morte, Igreja de Ossos -- que é um poema sem rimas -- e Vida após a Morte são contos apenas medianos. Os mais fracos, porém, são os contos em sequência Ur e Herman Wouk ainda está vivo. O primeiro é, por mais que King faça malabarismos na hora de falar o contexto, um conto pago pra Amazon. E, realmente, não é o forte de King. O outro é baseado numa notícia. Infelizmente, se perde no caminho.

Só que Stephen King não deixa o livro morrer e volta de maneira genial com o Indisposta, o segundo melhor do livro da minha opinião -- apenas atrás de Garotinho Malvado. Como ele diz no contexto da história, é um conto no qual o leitor está um passo à frente, mas isso não atrapalha. O interessante, neste caso específico, é entender todos os meandros psicológicos do personagem principal.

Depois o livro entrega mais um punhado de contos medianos para depois voltar com tudo: os quatro últimos são excepcionais, com destaque para Aquele ônibus é outro mundo e o terror psicológico Obituários. Ambos contam com elementos perturbadores e deixam quem o lê em choque com o desenrolar. É inteligente, é bem dosado e faz o que é necessário: põe um fim ao livro numa nota alta, encerrando O Bazar dos Sonhos Ruins como mais um grande livro de King. Livraço.

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