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  • Foto do escritorMatheus Mans

Como Clint Eastwood retrata o patriotismo em seus filmes


Clint Eastwood foi moldado no faroeste. Protagonista de grandes filmes do gênero, como Por um Punhado de Dólares e o sensacional Três Homens em Conflito, ele se tornou o mais reconhecido artista do estilo cinematográfico e, assim, construiu toda sua carreira seguinte em cima dos principais preceitos do gênero. Hoje, com 87 anos e quase quarenta créditos como diretor, Clint ainda exala o patriotismo de seus primeiros filmes como ator e não deixa de sempre fazer ressurgir, de uma forma ou de outra, a tradicional figura do mito do herói americano.

Veja bem: nos filmes de faroeste, há sempre um embate claro entre o mocinho e o vilão. O bom rapaz é sempre da estirpe americana, ainda que não tenha claramente essa origem. E o rapaz ruim sempre é um estrangeiro, um índio ou, ainda, alguém de aparência ainda mais desleixada, com barba aparada de maneira torta e graves problemas dentários. É, enfim, um embate que já perpassa os séculos entre figuras que só mudam a origem, motivações e embates.

Clint, então, pegou o cerne desse duelo do faroeste e levou para praticamente todos seus filmes. Ainda que longas como Bird, As Pontes de Madison e Além da Vida não sigam essa cartilha, os outros filmes a adaptaram. Em Sobre Meninos e Lobos, vemos a história de três amigos que se veem envoltos na morte da filha de um deles -- por um homem que começa a ser caçado. Em Gran Torino, o embate é entre Clint e uma gangue de estrangeiros que incomodam sua vizinha.

O modo como o cineasta trata esses assuntos, porém, vai mudando conforme observamos sua filmografia. Ainda que ele não escreva seus roteiros, ele os escolhe mantendo um tipo de temática. Os primeiros filmes são faroestes clássicos (O Estranho Sem Nome, Escalado para Morrer), depois passa por tramas policiais próximas de faroestes (Impacto Fulminante), passa por um período de experimentação sem o tal embate (Bird, Pontes de Madison) e, depois, se aconchega nas histórias inspiradoras com a polaridade presente (A Troca, Cartas de Iwo Jima, Invictus).

Agora, Clint Eastwood se encontra num momento muito peculiar em que busca encontrar a figura de um herói americano moderno. Volta ainda mais às raízes do faroeste e trata a polarização de bem e mal da maneira mais simples possível. Como? Guerra. Desde o filme sobre J. Edgar Hoover, a guerra se tornou contumaz em suas histórias e facilita a mostrar a figura que Clint enxerga como vilão -- só o ótimo Jersey Boys: Em Busca da Música fugiu disso.

Em Sniper Americano, a figura de um atirador que deu o tiro de maior distância da história é glorificada. A bandeira americana é usada em excesso e o rapaz, um simples militar que matou dezenas de pessoas no Oriente Médio, tem toda a história construída em prol da criação de um mito. Seus erros são quase isentos e as mortes que causa são apenas para defender seu país da invasão de bárbaros. Não te lembra as premissas de Três Homens em Conflito?

Em Sully: O Herói do Rio Hudson, não há guerra, mas há a glorificação de um ato heroico no qual um piloto de avião, muito bem interpretado por Tom Hanks, dá um jeito de pousar um avião em pane no Rio Hudson. No entanto, não é mais uma simples história de um ato de heroísmo. Apesar da atitude de Sully ser louvável, Clint foca no embate entre o piloto e a estranha justiça norte-americana, que diz ser culpa dele a pane. Mais uma personificação de mocinhos e bandidos.

No entanto, não há filme mais representativo dessa sua fase atual do que o novo 15:17: Trem para Paris. O longa-metragem praticamente não tem história, focando apenas na vida de três garotos comuns de Sacramento, na Califórnia. O que Clint faz, então, é investir na história de como os garotos foram moldados na guerra e na religião para, depois, combater um estranho estrangeiro que tenta causar mal aos seus comuns. Quer algo mais faroeste do que isso?

Clint Eastwood, então, apesar de seus altos e baixos como diretor, é um cineasta que segue seu estilo e o adapta às diferentes realidades. E assim, mesmo com Clint beirando a nona década, sabemos que o faroeste está vivo e presente em nosso cotidiano -- por mais estranho que ele seja.

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