Parece que foi ontem que os cinemas estavam abertos, recebendo as pessoas com pipoca, refrigerante e cerca de 10 lançamentos por semana. No entanto, já estamos na metade de abril e lá se vai cerca de um mês que as salas estão fechadas. Por ordens do governo, cinemas não podem funcionar. Com isso, estreias foram adiadas e empresas do setor ficaram desesperadas.
Mas afinal: quando será que os cinemas irão reabrir? Qual a data mais certeira? Como será isso?
Nas últimas semanas, tenho conversado com vários envolvidos na indústria audiovisual -- desde exibidores, passando por produtoras e chegando até distribuidores. E não há absolutamente consenso algum. Todos divergem. "Temos que reabrir já, pra ontem", disse um deles, indicando um certo desespero. Outro, um pouco mais sóbrio, indicou setembro. Outros, só dezembro.
O fato é que ninguém sabe. Salas de cinema, por mais que ofereçam um divertimento ímpar, são um festival de coronavírus: ambiente fechado, pessoas amontoados, comida com pouca higienização. Hoje, no atual cenário que vive o Brasil e o mundo, é impensável termos grandes aglomerações como tínhamos há pouco mais de um mês. Pior: não é nem ao menos saudável.
Cenário
Na Itália, divulgaram um cronograma de retomada. A ideia é que os cinemas voltem a abraçar o público só em dezembro -- depois de comércio e restaurantes, mas antes de estádios. E isso se tudo correr bem, conforme o esperado. Nos Estados Unidos, epicentro do caos hoje, executivos já indicam reabertura no início de julho. Logo aí. Mesmo com milhares de mortos em Nova York.
Assim, mesmo que o coronavírus siga o caminho esperado, de queda no número de infectados, é impensável cinemas em junho, julho ou até mesmo agosto. As pessoas terão que se acostumar, novamente, a dividir grandes ambientes. A se higienizar. A se preservar, caso esteja doente. Além disso, os cinemas que reabrirem terão que ir aos poucos. 30%, 50%, 75% da capacidade.
Ou seja: mesmo que reabram as salas de cinema, acredito que levaremos meses para as coisas voltarem ao patamar de antes. E aí vem a questão: será que a Disney vai queimar Mulan, uma aposta milionária, com a sociedade vivendo uma pandemia? Ou será que a Warner vai manter a aposta em Tenet ou Mulher-Maravilha 1984? Acho inviável e improvável. Saúde vem primeiro.
Elementos a mais
Por fim, deve-se destacar que estaremos vivendo uma crise econômica profunda. Especialistas apontam como a pior desde 1924. Demissões em massa, aumento da pobreza. Vale lembrar que, num cenário como esse, o cinema é a última prioridade. Gasto supérfluo, só depois que o aluguel, a alimentação e a escola estiverem resolvidos. Não dá pra esperar multidões no cinema.
E isso, claro, sem falar dos grandes festivais. Cannes está a um fio de ser cancelado, mantendo apenas o digital. Mostra Internacional de São Paulo, Festival do Rio e É Tudo Verdade dificilmente serão mantidos -- assim como CCXP, Comic Con San Diego e por aí vai. Com isso, é difícil que o Oscar 2021 se mantenha. Será preciso um modelo diferente para que sobreviva.
Mas isso, acredito, é assunto para outro texto. O fato é que estamos com uma dinâmica difícil: não deixar a indústria audiovisual perecer enquanto a saúde dos consumidores é resguardada. Eu, particularmente, acho que não tem condições. Cinema, daqueles que arrastam multidões, só em 2021. Antes disso, é brincar com fogo. Pior: é fazer pouco caso da saúde dos consumidores.
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