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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Câmera de Claire' possui excesso de simplicidade


O cineasta coreano Hong Sang-soo vai na contramão do cinema mundial. Ao invés de grandes efeitos e produções grandiosas, o diretor de O Dia em que Ele Chegar aposta na simplicidade de enquadramentos e tamanho da produção -- não é à toa que seu mais recente filme, A Câmera de Claire, tem uma dúzia de nomes nos créditos finais. Ele deixa claro, em tela, que não é preciso de grandes aparatos para se contar histórias fortes e impactantes.

No entanto, A Câmera de Claire sofre de um revés: é simples em demasia. Mas vamos por partes. A história é uma trama de encontros e desencontros de personagens em busca de algum sentido nas pequenas coisas da vida. Manhee (Minhee Kim) é a diretora comercial de uma produtora de cinema que é demitida do nada, enquanto acompanha a empresa em Cannes. Do outro lado, Claire (Isabelle Huppert) é uma parisiense que sonha em ser poeta e fotógrafa.

As duas, então, vivem de encontros e desencontros, se esbarrando pela cidade que sedia o famoso festival de cinema. Para contar essa história, Sang-soo não sai de seu estilo visual: a câmera fica fixa e o único movimento é de um instável zoom, que por vezes funciona e em outras se torna apenas mais um movimento qualquer e sem muito apuro narrativo. Quem espera por uma história mais agitada ou, ainda, com grandes impulsos narrativos, vai se decepcionar.

Essa simplicidade começa a atrapalhar logo numa das primeiras cenas. O som de algumas passagens é terrivelmente captado. Numa cena de Manhee num café, junto com sua chefe, até o barulho da chave de um homem é reverberado na tela num som que incomoda a absorção. Há um outro momentos em que a personagem coreana passa fitas numa caixa e que o som se torna absolutamente irritante. Faltou melhor cuidado na edição e design de som.

O excesso de simplicidade, porém, afeta ainda mais as atuações. Minhee Kim é uma boa atriz e que já tinha brilhado com A Criada. E Isabelle Huppert (Elle e Happy End) dispensa comentários. No entanto, as duas passam grande parte do filme falando em inglês, que não é a língua materna de nenhuma das duas. Os diálogos, então, se esvaziam para conversas banais e quase de elevador. Tudo bem isso ocorrer uma vez, mas é insuportável quando se arrasta por um filme todo.

O cineasta, porém, possui algumas sacadas narrativas que elevam a força da trama -- ainda que não a salve por completo. Primeiro é a questão da honestidade quando a personagem de Manhee é demitida, sendo que a própria chefe dá mostrar de ser uma pessoa ardilosa e, por vezes, mentirosa. Além disso, há uma brincadeira com a habilidade de fotografia de Claire -- e que dá título ao filme -- que ajuda a ampliar algumas situações. É o banal sendo reinterpretado.

Mas, ainda assim, A Câmera de Claire é um filme que acaba se perdendo em sua simplicidade e se tornando, em alguns momentos, amador. Hong Sang-soo, novamente, não se atualiza e permanece com um estilo visual, narrativo e fílmico que já começa a apresentar certo desgaste. Falta uma pitada de ousadia nessa receita. Afinal, se o simples continuar operando, o cinema do diretor coreano vai se perdendo e se tornando simplista. A Câmera de Claire, infelizmente, apenas indica esse caminho.

 

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