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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Ghost Story' é um dos melhores filmes ano -- senão, o melhor

Atualizado: 12 de jan. de 2022


Nos últimos tempos, tenho observado um padrão interessante: uma ou duas vezes por ano surgem filmes silenciosos, que quase nunca chegam às telonas do País, mas que contam com uma força fílmica impressionante. Ex-machina, The Invitation, Sing Street, O Lagosta e Ao Cair da Noite são alguns exemplos. Agora, em 2017, chega o longa-metragem A Ghost Story, produção independente com Casey Affleck e que tem tudo para ser um dos principais filmes do ano.

Sobre a trama, iremos falar quase nada. Assim como o recente Blade Runner 2049, o ideal é saboreá-la aos poucos. No centro da história, temos C (Casey Affleck), um rapaz que ama a vida que tem junto com sua esposa, a sempre aventureira M (Rooney Mara). Tudo ali vai bem até que C sofre um grave acidente de carro e morre instantaneamente. Amargurada, M se muda da casa onde viviam enquanto ele assombra o local como um fantasma clássico, com lençol no corpo.

A partir daí, o diretor e roteirista David Lowery (dos bons Amor Fora da Lei e Meu Amigo, o Dragão) constrói uma trama existencial, sem grandes momentos de virada ou de emoção. Tudo ali em seu filme é construído em cima de pequenos detalhes, emoções e sentimentos que vão surgindo discretamente conforme os personagens evoluem. Um bom exemplo do ritmo do filme está numa cena de Rooney Mara comendo uma torta. Se você entendê-la, este filme é pra você.

Mas claro: para um bom filme, não basta uma boa ideia. É preciso ter apuro técnico durante a produção. E isso Lowery tem de sobra: A Ghost Story simplesmente não tem erros. Cenas que parecem vazias de significado ganham força quando o cineasta dá respiros na edição e permite que o espectador absorva todas informações e compreenda os significados sem a ajuda do roteiro -- que não é explícito e deixa tudo nas entrelinhas, sem ser didático em momento algum.

Além disso, o clima sombrio e enevoado da direção de arte ajuda a dar força para a trama, que ganha contornos dramáticos apenas com um sequência ou um plano sobre os seus personagens -- algumas das cenas do longa-metragem, aliás, parecem pinturas de tão bem fotografadas e dirigidas que são. Destaque também pra primorosa trilha sonora de Daniel Hart, de Meu Amigo, o Dragão. Cheia de tons graves, ela ajuda a compôr o ambiente e ecoa em trabalhos de Hans Zimmer e Jóhann Jóhannsson.

Outro destaque fica por conta das atuações. Rooney Mara aparece pouco, mas consegue criar sentimentos importantes vindos de sua personagem. Já Casey Affleck fica o filme todo debaixo de um lençol -- algo nem um pouco parecido com seu mais recente e oscarizado trabalho, Manchester à Beira-Mar. Ele faz, porém, um bom jogo de corpo e consegue criar uma boa presença nas cenas. Vale destacar também a atuação de Will Oldham, que tem uma única cena, mas dá um show.

O grande atributo do filme, porém, é o roteiro. Mesmo com poucas falas, a trama de Lowery conta com uma inventividade que dá frescor ao cinema de 2017 e chama a atenção com uma reviravolta que faz pensar -- e, muitas vezes, pode fazer com que a audiência saia sem entender nada do cinema. Quando cai a ficha, então, impossível não ficar impactado com o filme. Junto com Mãe!, A Ghost Story é um daqueles filmes que valem o ingresso já pela ideia original da história.

A Ghost Story pode não agradar todos -- afinal, o ritmo é lento e é necessário pensar sobre a história como um todo. No entanto, difícil não ficar abalado com seu significado real e sua forte mensagem final. É um daqueles filmes impecáveis, sem erros e que merecem atenção e um espaço no seu coração. Sem dúvidas, vai figurar dentre os principais destaques nas listas de melhores filmes de 2017. Na lista do Esquina, pelo menos, o espaço de A Ghost Story já está reservado.

EXCELENTE

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