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  • Giulia Costa

Crítica: 'A Inventora', da HBO, retrata o poder de influência de uma boa história


Elizabeth Holmes era uma jovem de 19 anos e ex-aluna da Universidade Stanford quando fundou, em 2003, a Theranos, startup que prometia transformar a maneira como são feitos testes clínicos. Seu objetivo era criar uma máquina chamada Edison que dispensava o uso de agulhas para a coleta do material sanguíneo. Apenas uma gota de sangue seria o suficiente para realizar os exames.

A ideia foi tão aclamada e tantas pessoas importantes e famosas investiram na Theranos que, em 2014, a empresa foi avaliada em 9 bilhões de dólares pela Forbes e sua criadora foi eleita uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time, sendo considerada até mesmo a versão feminina de Steve Jobs. Dois anos depois, no entanto, foi descoberto que o negócio bilionário de Holmes era praticamente o próprio Fyre Festival do Vale do Silício: uma grande fraude.

A Inventora: a procura de sangue no Vale do Silício é o mais novo documentário produzido pela HBO e narra justamente a história de ascensão e queda da Theranos e de sua fundadora, além de tentar explicar como Holmes conseguiu enganar e manipular tantas pessoas. O filme conta com a direção de Alex Gibney, vencedor do Oscar de Melhor Documentário por Taxi to the Dark Side, e já está disponível na plataforma de streaming e no canal da emissora.

O documentário é longo e denso, apresentando muitas informações sobre o caso e várias entrevistas com funcionários, investidores e ex-professores de Elizabeth. Contudo, a falta de entrevistas com familiares e amigos íntimos da empresária faz com que o telespectador não se conecte com o lado mais pessoal de Holmes -- ou o outro lado da história -- e tenha apenas uma visão de quem é essa mulher no meio profissional. Todas as histórias particulares retratadas são contadas sempre pela própria Holmes em vídeos promocionais. Sua versão profissional é claramente o foco do filme.

É possível perceber que Elizabeth era uma pessoa extremamente carismática já que conseguiu manipular grandes figuras do mercado financeiro a ponto de investirem em um projeto incerto, além de acumular fãs pelo mundo. Entretanto, é difícil enxergar de verdade o carisma de Holmes por meio do documentário. Ao invés disso, vários aspectos curiosos -- para não dizer estranhos -- em sua personalidade são evidenciados do começo ao fim do filme, como seus olhos esbugalhados, o fato de ela quase nunca piscar, seu prazer em falar de si mesma, sua obsessão com o trabalho ou sua mania de copiar gênios da tecnologia até mesmo no estilo de se vestir.

A conclusão é: “como ninguém percebeu que essa mulher era completamente insana?”. A explicação apresentada no filme para convencer tantas pessoas influentes e a própria mídia a acreditar numa farsa é simplesmente a narrativa que ela criou em torno de si mesma e de seu produto, que inclui o comovente relato de seu tio que faleceu vítima de câncer e seu anseio por exames clínicos menos invasivos e mais acessíveis.

O documentário possui um bom ritmo e é conduzido de maneira bastante linear, resultando em um enredo fácil de acompanhar apesar de algumas cenas e imagens serem bastante repetitivas. Outro aspecto positivo do longa é as reflexões que ele propõe em relação ao consumo e o poder do marketing na sociedade do século XXI, onde as pessoas são capazes de comprar uma ideia ou produto antes mesmo de saber se ela de fato funciona.

A Inventora é um bom documentário, especialmente para os que gostam de temas relacionados a tecnologia e marketing. A construção da imagem de Elizabeth e sua marca são muito bem apresentadas e é evidente que seu poder de persuasão vem da criação de uma boa história.

 

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