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  • Bárbara Zago

Crítica: 'A Maldição da Casa Winchester' é cinema repleto de clichês


Muitas vezes, um título autoexplicativo demais já denuncia a baixa qualidade de um filme. Com A Maldição da Casa Winchester não é diferente. Baseado numa história real, o mais novo longa dos irmãos Spierig, diretores do filme Jogos Mortais: Jigsaw, explora a residência da viúva Sarah Winchester (Helen Mirren), que recebeu uma fortuna após seu marido, fundador da Winchester Repeating Arms Company, falecer. O único aspecto positivo do filme é a história, algo que não é mérito próprio já que se baseia em fatos verídicos. De qualquer forma, o grande gancho se dá quando o Dr. Eric Price (Jason Clarke) é chamado para avaliar a sanidade mental de Sarah, com o intuito de verificar se ela é capaz ou não de se responsabilizar pela empresa de armas.

Este talvez seja o filme de terror com mais clichês e defeitos que assisti nos últimos anos. A mansão Winchester, localizada em San Jose, na Califórnia, é uma atração turística nos Estados Unidos devido ao seu tamanho, falta de planos arquitetônicos e número de quartos. No filme, fica claro que Sarah, assombrada pelos espíritos daqueles que foram mortos por rifles Winchester, decide criar cômodos para cada um deles. Como ela planeja isso? Simples: durante a madrugada, literalmente após a meia-noite, ela é quase que possuída por fantasmas e desenha a planta dos quartos. Como isso é mostrado no filme? Uma espécie de Chico Xavier da arquitetura, causando desconforto em qualquer pessoa com bom senso. A cena se aproxima tanto do ridículo que perde qualquer validade.

Em quase 100 minutos de filme, pode-se dizer que 60 deles são jumpscares bem previsíveis. A técnica mais visível talvez seja a sustos atrasados; quando o espectador acha que algo vai acontecer, o filme faz questão de repetir a mesma cena 4 ou 5 vezes para aumentar a tensão. Não posso afirmar que o resultado é eficiente, mas ainda é uma técnica. Quem pensa que a repetição se dá apenas nos jumpscares, infelizmente se engana; para provar um ponto, o filme insiste na mesma ideia não duas, mas três ou mais vezes. Logo quando somos apresentados ao psiquiatra, ele pergunta para uma mulher se ela acha que a mente controla o corpo. Até então, justificável, justamente por ter apreço pela Psicologia/Psiquiatria. Mas ele resolve provar isso através de ilusionismo: truques de mágica. Freud choraria assistindo esta cena.

Gostaria de dizer que mesmo com todos esses erros, pelo menos a mansão foi bem retratada, mas não. Por ser uma atração turística, com certo valor histórico, acredito que fazer uma casa digitalmente seja uma falta de respeito, cinematograficamente falando. Até mesmo quem é leigo consegue perceber que aquilo passa longe de um cenário. Pelo menos, internamente, conseguiu fazer jus ao que ela realmente é: corredores imensos, portas que dão para o nada e janelas que dão para outros quartos.

Apesar de todos os problemas, o filme se superou em um aspecto: a justificativa que a viúva Winchester usa para escolher Dr. Price. Ele acaba de perder a esposa para um suicídio. No momento em que ela resolve disparar o rifle, que obviamente é da Winchester, quem é atingido é o próprio médico e ele morre por alguns segundos. Morre. E retorna à vida. Por isso tem uma ligação tão forte com os espíritos e seria a pessoa mais apropriada para avaliar a sanidade mental de Sarah. Sem contar que ele guarda consigo o rifle que o matou.

A Maldição da Casa Winchester é o tipo de filme que tenta assustar com cenas previsíveis, mas não causa muito efeito. Particularmente, considero um descaso utilizar uma história real tão boa e desenvolvida para criar um longa dessa qualidade. Quem não sabe que se baseia em fatos verídicos, sai da sala de cinema pensando que é apenas mais uma história sem pé nem cabeça, e repensando se valeu o preço do ingresso.

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