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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Noite Devorou o Mundo' tenta ser original, mas se perde em convenções


Desde que George Romero apresentou A Noite dos Mortos-Vivos ao mundo, em 1968, o gênero de zumbis passou a seguir padrões -- ampliados no clássico Despertar dos Mortos, do próprio Romero. Desde então, há dezenas e dezenas de variações sobre a história dos mortos que voltam à vida, mas sempre seguindo uma mesma cartilha. O drama A Noite Devorou o Mundo, porém, tenta mudar esse paradigma com uma trama ousada e original.

Na história, nada da conspiração de Guerra Mundial Z, da comédia de Zumbilândia, do clima horrorizante de REC. Aqui, o foco é na solidão do ser humano. Para isso, os roteiristas Jérémie Guez (Iris), Guillaume Lemans (72 Horas) e Dominique Rocher (La vitesse du passé) colocam Sam (Anders Danielsen Lie) sozinho em meio ao apocalipse zumbi. Ele acorda sozinho na casa da ex-namorada, perdido e sem saber o que fazer pra sobreviver.

A partir daí, a história e a direção do estreante Dominique Rocher ganha contornos sombrios. Ainda que os zumbis tenham um aspecto bem grotesco e deem medo com a ausência de sons, o foco está no psicológico do seu protagonista. A relação dele com a solidão, os surtos que a falta de informação causa, a necessidade de saber o que está acontecendo, o medo com o desconhecido, o desejo de encontrar alguém na mesma situação.

São várias as questões, mais profundas e psicológicas, que permeiam a narrativa. Os zumbis, em A Noite Devorou o Mundo, são só um elemento para aprofundar a mente de seu personagem. Além disso, como é tradicional nas narrativas de zumbis, há o elemento metafórico. Nesse caso, são várias as interpretações. Mas a principal é sobre algo que os franceses não sabem se relacionar: a invasão de estrangeiros no País. Boa discussão.

No entanto, o que começa como original e de um frescor interessantíssimo, vai se perdendo. A atuação de Anders Danielsen Lie (do fraco A Caminho do Desconhecido) começa bem, mas perde a força de forma meteórica. Principalmente pelo fato de seu personagem perder qualquer tipo de empatia ao longo da elaboração e desenrolar da trama. Difícil torcer totalmente por ele em alguns momentos. Sigrid Bouaziz (Personal Shopper) é operante.

O grande problema, porém, é que as tais convenções de gênero tomam conta de uma trama que se propunha a ir no caminho contrário. Os ataques dos zumbis ficam mais proeminentes e o longa-metragem ganha um tom de Eu Sou a Lenda. O terceiro ato é ridiculamente parecido, parecendo apenas uma versão francesa do bom filme de Will Smith.

No final, A Noite Devorou o Mundo se consolida como um bom filme do gênero. Só não é o melhor dos últimos anos por ter Invasão Zumbi no caminho. Mas, infelizmente, não consegue ir muito além dos padrões do gênero, já tão consolidados e de difícil transformação. Parecia que a França conseguiria mudar isso. Mas, infelizmente, ficou no meio do caminho.

 

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