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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Noite do Dia 12' revela as entranhas da polícia francesa


Em determinada cena de A Noite do Dia 12, longa-metragem que chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 13, uma garota está sendo questionada por um policial quando chega ao seu limite. Ela cansa. Chorando, começa a questionar os métodos do agente da lei, mostrando como ele está sendo machista -- e mais, como o sistema é, como um todo, preconceituoso e violento.


Essa é a essência do filme francês, uma das boas surpresas do mês. Dirigido por Dominik Moll (do também bom Más Notícias para o Sr. Mars), o longa-metragem começa com a jovem Clara (Lula Cotton-Frapier) voltando da casa de uma amiga, à noite e sozinha. No caminho, porém, ela é interceptada e morta. Queimada viva. Quem a matou? A quem interessava matar a jovem?


É essa pergunta que acompanha todo o filme e atormenta o dia a dia de Yohan (Bastien Bouillon), o jovem capitão que lidera as investigações. O fantasma de Clara parece que o persegue. A partir daí, o longa-metragem se torna um mergulho nessa investigação francesa.


No entanto, mais do que um filme de investigação puro e simples, A Noite do Dia 12 é um forte comentário. Não apenas sobre a violência no país da Torre Eiffel, mas também sobre o machismo que existe na polícia -- tudo que a cena em que uma amiga de Clara é questionada, representa. Um homem comete um crime. E, depois, homens assumem a investigação.

E isso é representado menos em atos e mais em palavras. Yohan, por exemplo, em momento algum assume uma postura claramente machista ou coisa do tipo. Moll comanda uma história em que as coisas estão nas pequenas comunicações: os excessivos questionamentos sobre a vida sexual de Clara, a forma que ela é vilipendiada até mesmo na morte, os excessos.


É um comentário forte que nasce a partir dessa proposta de A Noite do Dia 12, que não necessariamente deseja criar vilões, mas apenas mostrar fragilidades de um sistema que é viciado quase que naturalmente. Preconceitos surgem de uma estrutura ancestral. "O machismo é o medo dos homens das mulheres sem medo", já diria o escritor Eduardo Galeano.


O final de A Noite do Dia 12 é a única grande escorregada do filme: algumas colocações são exageradamente piegas, tentando amplificar demais essa mensagem que já estava colocada com clareza. Parece que Moll, a partir do roteiro assinado por ele, Pauline Guéna e Gilles Marchand, desistiu das coisas entreditas e tentou ser exageradamente literal. Se torna piegas.


Ainda assim, o longa-metragem francês tem força, personalidade e, acima de tudo, algo a dizer. Mais do que focar em uma investigação vazia, fala sobre frustrações, sobre crimes não resolvidos e, acima de tudo, os vícios de um sistema que é comandado e personificado por homens. A estrutura da sociedade é espalhada ali -- e essa é a maior fragilidade da coisa.

 

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