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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Origem do Mundo' é bobagem francesa da Netflix


Que grande bobagem e absurdo é A Origem do Mundo, comédia francesa que chegou ao catálogo da Netflix nesta terça-feira, 11. Dirigido pelo estreante Laurent Lafitte, que por sua vez faz a adaptação da peça de Sébastien Thiery, o longa-metragem conta a história de um homem que enfrenta um dilema: seu coração parou de bater, mas ele continua vivendo, respirando, pensando. O que aconteceu? É justamente isso que ele tenta descobrir e, é claro, resolver.


Até o ponto em que A Origem do Mundo revela a problemática desse personagem, vivido pelo próprio Laurent Lafitte (Elle), as coisas caminham mais ou menos bem. Há uma passagem de teor transfóbico, mas que pode ser relevada por ser um retrato de um homem preconceituoso e que não é abraçada totalmente pela narrativa. No entanto, a coisa desanda de vez quando o personagem descobre como resolver seu problema: tirar uma foto da vagina de sua mãe idosa.


O absurdo da situação, que evidencia ainda mais o realismo fantástico dessa peça de Thiery, poderia seguir para uma comédia divertida desse homem se digladiando em busca de soluções para a "parada cardíaca". No entanto, indo contra todas as possibilidades, Lafitte vai fundo na ideia de tirar uma foto da vagina da mãe do protagonista, numa referência direta e óbvia ao quadro de Gustave Courbet. É neste ponto, então, que diretor e roteiro perdem a mão no humor.

Franceses são, naturalmente, mais libertários -- aceitam a sexualidade de maneira mais aberta, com menos tabus e com menos imposições religiosas. No entanto, A Origem do Mundo extrapola esse conceito ao tentar fazer graça com situações que envolvem abuso sexual e maus-tratos contra uma idosa. Sim: o personagem de Lafitte, ao lado da esposa (Karin Viard, insuportável em cena) e um amigo (Vincent Macaigne), tenta forçar a foto da vagina de sua própria mãe. Absurdo.


Obviamente, lá pelo final, o roteiro tenta caminhar para duas redenções. Primeiramente, mostrar que tudo é uma grande metáfora edipiana. Só que isso foi construído de maneira tão pobre que chega a incomodar e a não trazer impacto algum. Além disso, o filme busca descontruir a imagem da mãe para preparar o espectador acerca do que vem a seguir -- mais violência sexual contra a idosa, além do destrato. Mas não dá. É um texto tão raso que apenas cansa, desanima.


A Origem do Mundo pode até ter uma ideia boa, mas é terrivelmente executado. Não consegue alcançar o humor como desejado e, sobretudo, tenta banalizar uma situação de abuso que não pode (e nem deve!) ser tratada com a naturalidade que lhe é conferida. Vergonhoso, bizarro e nem um pouco engraçado. É difícil entender como Lafitte, um ator tão consagrado e de bons projetos, aceitou entrar nessa enrascada. E como Cannes colocou esse filme na seleção oficial?

 

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