Como é bom, de vez em quando, encontrar um filme fora do circuito dos Estados Unidos. E bom. É o caso de A Prima Sofia, produção premiada em Cannes e que chegou esta semana ao catálogo brasileiro da Netflix. Dirigido por Rebecca Zlotowski, o longa-metragem se vale de um ambiente bucólico para trazer uma história sobre crescimento, maturidade e sexualidade.
Para isso, conta a história de Naima, uma jovem de 16 anos que vive na belíssima cidade de Cannes. As coisas em sua vida mudam, porém, durante o verão, quando a prima Sofia chega de Paris com sua beleza urbana, sua sexualidade à flor da pele e entrando em uma nova fase de sua vida. E é a partir daí que Naima começa a observar a prima engatando um romance.
Com uma ambientação bem marcada, o grande diferencial de A Prima Sofia está nas camadas que a diretora Rebecca Zlotowski coloca nessa história aparentemente banal sobre relacionamentos de jovens -- e que lembra, guardadas as devidas proporções, Me Chame Pelo Seu Nome e outras histórias de romances de veraneio. A diretora, aqui, esconde tudo muito bem.
Afinal, o que inicialmente parece uma espécie de romance erótico perdido no tempo, vai se revelando como uma boa análise sobre a descoberta da sexualidade, inveja e, principalmente, aspectos destrutivos da modernidade. São conceitos complexos e complicados de colocar em uma trama assim, aparentemente banal, sem soar presunçoso. Mas a cineasta consegue.
As atrizes, conscientes da complexidade nas entrelinhas, se entregam com força e dedicação. Fiquei com mais vontade de ver outros trabalhos Zahia Dehar (a Sofia) e Mina Farid (a Naima).
Mas, como sempre, precisamos dizer: nem tudo são flores em A Prima Sofia. Apesar da força da narrativa nas entrelinhas e a beleza da ambientação, é um pouco monótona algumas decisões da diretora em termos de encaminhamento e abordagem. A sensação, já no final da película, é que esse é um tipo de produção que já foi explorada, de diversas formas, no cinema francês.
Assim, fica o gostinho de que A Prima Sofia poderia ser muito mais do que é. Talvez mais ousado. Talvez mais ácido em suas críticas e posicionamentos. No entanto, no geral, não dá para reclamar. É um filme que te faz viajar, seja para os tempos de juventude, seja para essa Riviera francesa que é quase um atentado de ser tão belamente retratada em tempos de quarentena.
Comments