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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Última Gargalhada', da Netflix, é comédia despretensiosa


A dupla de protagonistas da comédia A Última Gargalhada, produção original da Netflix, é inusitada. De um lado, Chevy Chase, o querido Clark Griswold da franquia Férias Frustradas. Do outro, Richard Dreyfuss, ator dramático que protagonizou filmes como Tubarão e Contatos Imediatos de Terceiro Grau. O diretor Greg Pritikin, porém, fugiu do óbvio e resolveu inverter o esperado: Chase, comediante nato e "criado" no programa de TV Saturday Night Live, faz o papel mais sério e contido como agente de artistas; Dreyfuss, enquanto isso, encarna um comediante aposentado que resolve voltar à ativa.

Unindo essas duas figuras, então, o longa-metragem A Última Gargalhada faz uma espécie de road movie da terceira idade no qual o comediante Buddy (Dreyfuss), após uma aposentadoria de 50 anos, é retirado do conforto do asilo por seu antigo agente Al (Chase). O objetivo é rodar os Estados Unidos passando pelos mais decrépitos bares e teatros fazendo humor stand-up para que, no final, talvez consigam uma ponto em um programa de TV famoso em Nova York. No entanto, como em qualquer filme do gênero, muita coisa inusitada vai acontecer no meio do caminho e distrair a dupla de amigos.

Pritikin, que dirigiu o mediano Dummy: Um Amor Diferente e roteirizou o polêmico Para Maiores, faz um filme leve, despretensioso e que não pretende provocar um riso fácil, forçado. Nada do humor de Férias Frustradas. Aqui, o sorriso surge de forma despretensiosa entre uma cena e outra, apenas no canto da boca, por conta da situação geral dos dois personagens, que vão vivendo suas vidas e tentando emplacar uma turnê de sucesso. Os únicos momentos de comédia mais incisiva ficam nas apresentações de Buddy, que faz algumas piadas espirituosas, naturais e muito bem encaixadas em cena.

Outro ponto que traz sorrisos leves ao longo da trama é a química e a atuação da dupla de protagonistas. Chave, que é conhecido por não ter um bom relacionamento nos bastidores em que passa, deixa a comédia histriônica de lado e encarna isso em sua atuação. É natural e inusitada. Mas é Dreyfuss que surpreende. Ainda que já tenha atuado em comédias, como Meu Querido Bob e Do Jeito que Elas Querem, o ator aqui se destaca por usar de um humor que flui, como se fosse criações dele próprio. Diverte.

A única peça desafinada aqui é o roteiro de Pritikin. Mesmo tendo dois bons atores nas mãos, o cineasta e roteirista acaba deixando o filme cair num lamaçal de mesmice. Nada surpreende, nada vai além. É uma história banal, pouco original, e que não traz elementos memoráveis. E quando ele tenta tirar as coisas do mesmo tom, trazendo elementos diferenciados à narrativa, o filme não sai do lugar. É o caso de quando Andie MacDowell aparece com sua personagem no meio do filme, quebrando a química entre os dois protagonistas e inserindo um arco totalmente dispensável à toda a história.

Assim, A Última Gargalhada é uma comédia leve, despretensiosa, nada memorável e que deve agradar os mais velhos -- afinal, nas apresentações de Buddy, o principal assunto é a velhice. Pena que Pritikin é tão pouco talentoso, apesar de ter algum estilo interessante de filmagem. Uma historia um pouco mais enérgica e original seria interessante. A criatividade fica limitada apenas à escalação do elenco, como ressaltado no início deste texto. O riso aqui, então, é total mérito de Chase e Dreyfuss, que sabem como trabalhar uma cena para produzir um efeito imediato na audiência. Filme para divertir por alguns momentos, entreter, e logo depois ser esquecido. Poderia ser melhor.

 

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