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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Alerta Lobo', da Netflix, é filme francês de ação instável


Difícil o cinema francês produzir filmes de ação. Geralmente, as produções deste país europeu recaem sobre o drama e a comédia -- e, dentro desses gêneros, passeiam entre o registro histórico, a observação de costumes e coisas do tipo. Mas agora, sob a batuta da Netflix, a França apresenta o bom longa de ação dramático Alerta Lobo, que acompanha a rotina de um grupo de militares em um submarino. E, no meio dessa tripulação, está Chanteraide (François Civil), um jovem que possui um "ouvido perfeito".

Ou seja: ele consegue distinguir sons, ritmos e entonações rapidamente e com perfeição, enquanto a maioria das outras pessoas escuta apenas um barulho ou um ruído. No entanto, ele acaba por cometer um erro e coloca a França em uma difícil situação -- que, com o passar da trama, vai se acentuando e ganhando contornos ainda mais complicados. Será ele, então, que precisará dar um jeito de resolver as coisas, mesmo que envolva não respeitar algumas ordens e arriscar sua vida ao máximo.

O filme conta com a direção de Abel Lanzac, francês que faz sua estreia como diretor, mas que já tinha crédito como roteirista do insosso O Palácio Francês. Aqui, porém, ele deixa a comédia dos bastidores políticos para comandar uma trama que se curva mais à emoção dos acontecimentos. Esqueça, porém, se você está pensando que este filme lembra o recente Fúria em Alto Mar, com Gerard Butler. Os acontecimentos que envolvem o submarino são bem mais contidos e cerebrais, como O Barco: Inferno no Mar e U-571: A Batalha do Atlântico. Nada de explosões grandiosas e efeitos ruidosos.

Mas, apesar de tudo, acaba por usar clichês básicos do gênero, como os russos e muçulmanos sendo postos como vilões. Esse estereótipo, pelo visto, é sem fronteiras.

Dessa maneira, Alerta Lobo acaba tendo que se sustentar em duas coisas principais: as atuações do protagonista e dos três coadjuvantes principais e, claro, na maneira que o roteiro constrói as sequências de ação. Sobre o primeiro ponto, são poucos os empecilhos. Civil (Quem Você Pensa que Sou) encaixa bem no papel de alguém com um "ouvido biônico", com suas perturbações, medos e angústias. Omar Sy (Intocáveis) e Reda Kateb (Submersão) funcionam como líderes militares com algum lado humano ali.

O que acaba deixando o longa-metragem levemente problemático é o roteiro, escrito pelo próprio Lanzac. Parece que ele não soube como administrar um filme de ação, dosando bem as cenas enérgicas e os dramas humanos. Não há uma sinergia entre os gêneros, fazendo com que a todo momento sobre alguma situação sem muito propósito. Por exemplo: a relação entre o personagem de Civil e a bibliotecária Diane (Paula Beer). Parece que o relacionamento serve apenas pra uma única pequena coisa. Nada demais.

Além disso, há muita divagação envolvendo o protagonista. Ainda que Civil desempenhe um bom papel, a enrolação extrapola. Fica chato, repetitivo. Podia ter 15min a menos.

O grande erro do roteiro, porém, acaba recaindo numa espécie de batalha final entre submarinos. Por mais que a ideia seja boa, ela não funciona totalmente na tela. Fica levemente confuso e difícil de acompanhar. A ausência de uma trilha sonora marcante também exige mais do diretor, que precisa se virar nos 30 para conseguir criar sequências impactantes. Mas, infelizmente, ele não consegue. Cenas que deveria trazer emoção não surtem o efeito desejado. E o entusiasmo acaba por morrer na praia.

Ao final, fica a sensação de que Alerta Lobo é um bom filme por conta da ambientação, dos atores, dos excepcionais 30 primeiros minutos. Mas, infelizmente, fica evidente que o diretor não soube concluir a história e, principalmente, mesclar o drama com a ação. O longa-metragem não acerta em nenhum dos dois gêneros, ficando num meio-termo chato e pouco criativo. Surpreende pela ousadia do cinema francês em sair do seu eterno lugar-comum. Mas fica a evidência de que poderia ter ido muito, muito além.

 

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