Após uma passagem tímida no Festival Varilux de Cinema Francês de 2019, o longa-metragem Filhas do Sol finalmente chega às salas de cinema. E deve ser mais do que comemorada a distribuição nacional do filme. Afinal, apesar de ser exageradamente lento, o longa-metragem acerta ao trazer a história de um grupo de mulheres forte e empoderado, que emociona e surpreende ao longo de quase 120 minutos de duração.
O filme conta a história da comandante Bahar (Golshifteh Farahani) e o Filhas do Sol, um batalhão de mulheres curdas que atua ofensivamente na guerra do País. Ela e as suas soldadas estão prestes a entrar na cidade de Gordyene, local onde ela foi capturada uma vez no passado. Para acompanhá-las, ainda há a presença de Mathilde (Emmanuelle Bercot), uma jornalista que vê sua vida e da comandante mudar permanentemente.
Dirigido por Eva Husson (Bang Gang), o longa-metragem é impressionante em termos técnicos e cenográficos. O cenário de guerra é opressor e parece, por vezes, que ultrapassa o limite da tela -- uma sensação muito parecida com a de Cafarnaum, que parece criar uma nuvem de poeira na sala de cinema. Além disso, a câmera da diretora e a fotografia de Mattias Troelstrup (A Fita Azul) também engrandecem a ambientação.
Dessa forma, as atrizes principais se sentem mais à vontade na entrega. Não há cena no longa-metragem que faça duvidar que Farahani é a comandante de um batalhão curdo ou, ainda, que Bercot é uma jornalista de guerra. Ambas estão confortáveis em seus papéis e entenderam a carga emocional e dramática que suas personagens carregam -- principalmente Farahani, que tem uma cena particularmente desafiadora no longa.
Essa cena em questão, aliás, é o ponto alto de Filhas do Sol. Por mais que tenham outras sequências carregadas de emoção, a fuga de Bahar de determinado local que marcou sua vida é emocionante, fria, cruel, tensa. Dá vontade de levantar do sofá. E não é algo fácil. Afinal, é uma cena de flashback e o público já imagina como ela irá terminar. Escolha ousada da diretora Eva Husson e que, no final das contas, funcionou muito bem.
No entanto, é claro, nem tudo são flores. Por mais que seja um filme interessante e de desenvolvimento profundo, ele é lento. Muito, muito lento. Os mais de 120 minutos são exagerados e, apesar das sequências emocionais, acabam pesando. Difícil não sentir um cansaço, lá pela metade. Além disso, nem todos os flashbacks são bem encaixados como o citado aqui. Alguns destoam do restante da narrativa e a deixam mais pesada.
Algumas tramas, curiosamente, também acabam não sendo tão bem exploradas. A guerra em si exige um conhecimento geopolítico anterior e algumas coisas não fazem o sentido esperado. Talvez um pouco mais de didatismo, aqui, não faria tão mal ao longa.
No final das contas, essas questões tiram pontos de Filhas do Sol. É um filme bonito, bem fotografado, bem dirigido e que, principalmente, traz reflexões sobre o papel da mulher num cenário de guerra. Reverte estereótipos, também, já que o gênero é predominantemente masculino nos cinemas. Mas poderia ser mais ágil e ter um roteiro mais esperto. Dessa maneira, infelizmente, acaba limitando o seu alcance orgânico.
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