Rebeca (Úrsula Corberó) e Marc (Álvaro Cervantes) formam um jovem casal de escritores que decidem contar suas histórias a partir de laços familiares, de encontros e desencontros. Para isso, se trancam em uma casa abandonada, da escritora Amaia (Patricia López Arnaiz), e começam a criar uma narrativa a quatro mãos de como chegaram até ali -- recorrendo, inclusive, aos encontros amorosos de seus ancestrais. Esta é a trama de Árvore de Sangue, nova produção original do streaming da Netflix.
Reverberando nas histórias de gerações de Gabriel García Márquez, esta produção espanhola do diretor Julio Medem (dos ótimos Lúcia e o Sexo e Mama) tenta dar conta de uma trama complexa, cheia de personagens e vincos narrativos. Há história por todos os lados, em todos os detalhes. O espectador, aqui, precisa manter sua atenção durante o máximo de tempo possível, sem se distrair com celulares e afins. Um único ponto que é deixado de lado pode fazer toda a narrativa se esvair. É coisa demais.
Inicialmente, essa complexidade é desafiadora e causa um bom sentimento. Roteirizado pelo próprio Medem, o longa-metragem apresenta uma edição ágil, que entretém, e encanta pela aparente história familiar. Parece uma mistura simpática e bem dosada de alguma novela de Glória Perez com o clássico Cem Anos de Solidão -- guardadas as devidas proporções, claro. Difícil não se contagiar com o que se desenvolve na tela e como os personagens, tão amplos e complexos, vão se desnudando naquela "novela".
No entanto, com o passar dos minutos, a sensação vai mudando. Essa desafio inicial, que faz o espectador ficar grudado na tela para entender a dinâmica familiar, vai cansando. Afinal, fica evidente que muita coisa está ali para preencher buracos, mesmo o filme tendo 135 minutos. O desafio ultrapassa o aceitável e se torna chato. A trama familiar, que tinha pretensões grandiosas no começo, deixa Márquez e Pires para trás e vira apenas um "novelão" que poderia ser protagonizado por Gabriela Spanic ou Thalia.
Apesar da elegância da fotografia de Kiko de la Rica (Kiki: Os Segredos do Desejo), até os exageros típicos das "novelas mexicanas" aparecem por ali. São reviravoltas demais, situações inverossímeis que incomodam. Há até uma vaca que aparece em cima de uma árvore, quase mata os dois namorados protagonistas e não possui explicação alguma. Até parece que Medem vai adotar de vez um estilo parecido com García Márquez e colocar realismo fantástico na película. Mas tudo termina por ali, sem grandes arroubos.
O elenco também não ajuda muito. Úrsula Corberó (a Tóquio de La Casa de Papel) e Álvaro Cervantes (Hanna) são canastrões que não chegam em lugar algum. Ela até pode estar bem na série sensação de 2018, mas apenas por não ter nenhum tipo de desafio interpretativo. Aqui, quando é exigida, não rende. Ele, enquanto isso, é terrível. Tenta empregar uma áurea de macho misterioso e pegador que não convence. Beira o ridículo e faz com que a história perca força. Nada diferente do elenco de apoio também.
Assim, Árvore de Sangue quer ser muito, mas é muito pouco. Tenta fazer uma trama familiar a la Cem Anos de Solidão, mas termina com uma árvore genealógica confusa e de difícil conexão com o público. Tenta criar uma história épica de amor, mas acaba sendo apenas um novelão. Tenta inserir elementos estilosos e diferenciados, mas fica brega e sem contexto. É, enfim, um amontado de histórias que até traz um ou outro momento mais interessante. Só que, no final, a conexão com o espectador é mínima, rasa. Uma pena que Medem tenha errado tão feio. É um diretor muito, muito melhor.
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