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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'As Bestas' é importante reflexão sobre solidão feminina na sociedade



Confesso que até a o final dos 90 minutos de As Bestas, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de janeiro, não estava tão empolgado. Até aquele momento, o longa-metragem acompanhava uma profunda briga entre um francês (Denis Ménochet, genial) e dois espanhóis (Luis Zahera e Diego Anido) por não concordarem com a instalação de turbinas eólicas nesse pequeno povoado que moram no interior da Espanha. Os dois não se compreendem.


Nesses pouco mais de 90 minutos, acredito que duas cenas são muito acima da média. A primeira é uma partida de xadrez entre esse grupo, brilhantemente filmada por Rodrigo Sorogoyen (do tenso curta-metragem Madre, indicado ao Oscar), em que esses personagens estão em um embate violento permeado por silêncio e cutucadas bastante inesperadas.


A outra cena, já no final desse período, mostra o francês chamando os dois irmãos espanhóis para tomar uma cerveja e tentar colocar tudo em pratos limpos. Aqui, mais do que boa direção de Sorogoyen, temos um roteiro afiado do cineasta e de Isabel Peña em que esses personagens passam por uma transformação chocante. Até aquele momento, estamos sem dúvidas de um dos lados. Depois, compreendemos com clareza os motivos da revolta do outro lado.



É uma mudança chocante de foco da narrativa de As Bestas, que busca mostrar a complexidade de uma simples discussão como essa, num vilarejo espanhol. Nada é simples, preto no branco.


Neste ponto, estava começando a achar o filme muito bom. Até que Sorogoyen promove uma reviravolta genial -- que não falarei sobre isso aqui, já que seria spoiler. E aí o filme, nos últimos 45 minutos, vira outra história. Ficamos perdidos. O que exatamente o cineasta quer aqui?


É é aí, em uma reviravolta narrativa como não via há tempos, que Sorogoyen não quer apenas falar sobre a complexidade das discussões, o que é a verdade e afins. Ele quer falar, sobretudo, da solidão da mulher. Vem geração e passa geração, as coisas continuam iguais. As mulheres estão sempre sozinhas, lutando suas próprias batalhas, enquanto os homens não pensam em sua solidão. Uma cena envolvendo a filha dos franceses e a mãe é tocante, quando ela enfim percebe como aquela mulher é forte e há muito tempo está batalhando absolutamente sozinha.


As Bestas -- que revela o real motivo do título nessa reviravolta final -- já é um dos melhores filmes de 2024. É maduro, tem muito a dizer e brinca com a narrativa para que nós, espectadores, tenhamos nossa opinião sobre os personagens abalada enquanto o filme se desenvolve. É cinema de verdade, maduro e maiúsculo, que sabe como contar uma história.


 

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