Pra começar este texto sobre As Múmias e o Anel Perdido, animação da Warner Bros. que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 23, vou resumir brevemente o que é a história para você, caro leitor, ter uma ideia da bagunça que é o filme. Em essência, o longa-metragem é uma produção espanhola sobre múmias do Egito Ptolemaico, que participam até de corridas de bigas romanas, e que, ao atravessar um portal, vão parar em Londres, capital da Inglaterra, nos dias de hoje.
Parece – e realmente é – uma salada. O filme, dirigido pelo estreante Juan Jesús García Galocha, não tem preocupação em estabelecer uma história minimamente plausível. Na trama, o jovem Thut (Joe Thomas, na dublagem original) é escolhido, por acidente, como a alma gêmea da princesa Nefer (Eleanor Tomlinson). Não tem saída, é seu destino. Até que, sem muita explicação, ele acaba descobrindo um portal no tempo e vai para a Inglaterra atrás de um anel roubado.
Não há, assim, qualquer preocupação em estabelecer uma história minimamente coerente em As Múmias e o Anel Perdido. Itália (com as tais bigas), Egito e Londres se misturam, sem nunca ter qualquer marca cultural realmente marcante ou bem explicada, mesclando referências e elementos que passam longe da coerência. E veja bem: animações, acima até de outros gêneros, precisam ser coerentes. Seja na mente de uma criança, numa fábrica de gritos ou em fábulas.
Afinal, aquele universo absolutamente imaginado e criado do zero, agora não mais com rabiscos, mas com elementos digitais, precisa ter regras para ser entendido e compreendido. Senão, fica vazio de significados. É o caso, infelizmente, de As Múmias e o Anel Perdido: nada, absolutamente nada, é aprofundado, discutido, explicado. Tudo é jogado: desde o portal entre as realidades, assim como a organização cultural daqueles personagens. Nada tem profundidade.
No entanto, no final das contas, o que vale é a experiência dos pequenos. E, apesar de ser falho em desenvolver sua própria história de maneira apropriada, acaba sendo um bom ponto de partida para que as crianças pensem nas possibilidades que o filme levanta. Como seria encontrar uma múmia na rua de casa? Mais: como seria ter essa possibilidade de entrar em um buraco e sair não só no Egito, como também em séculos passados? São ideias divertidas.
Obviamente, o filme poderia e deveria ir além. Mas, como não vai, a solução é encontrar as boas histórias fora da telona. As Múmias e o Anel Perdido, assim, pode não ser uma diversão completa (é, na verdade, essa salada inacreditável). Só que, no final, os pequenos devem gostar das ideias, da música e de alguns personagens -- difícil não sentir algum vínculo, por exemplo, com o simpático crocodilo mumificado. No final, na bagunça, talvez dê pra encontrar diversão.
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