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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Bad Luck Banging or Loony Porn' é um dos grandes filmes de 2021


Filmaço, filmaço, filmaço. Só assim pra começar a crítica de Bad Luck Banging or Loony Porn, longa-metragem romeno que integra a seleção da Mostra 2021. Produção premiada em Berlim, a história se divide em quatro momentos distintos. O primeiro é uma espécie de prólogo, fazendo jus ao título do filme dirigido e roteirizado por Radu Jude: um filme pornográfico puro e simples. Ao longo de três minutos, vemos sexo explícito na tela, sem qualquer tipo de pudor.


Depois, já surge a tela rosa e a divisão de capítulos adotada por Jude. A partir daí começa o brilhantismo de Bad Luck Banging or Loony Porn com cenas da protagonista (Katia Pascariu) andando pelas ruas da Romênia logo após esse vídeo de três minutos vazar na internet. Jude não está preocupado, aqui, em explorar exatamente a história do vazamento, mas sim o que se sucede a partir disso na vida e no comportamento da personagem vandalizada e exposta.


Nessa primeira parte, Jude aposta na sutileza. Há várias referências fálicas pela cidade, dando a entender que o sexo está por toda parte. Há, também, espaços, arquiteturas e até mesmo propagandas que sugerem essa mesma referência — uma propaganda, por exemplo, mostra uma mulher chupando sorvete ostensivamente. Além disso, há os olhares, os risos, os deboches. Emilia, essa protagonista tão real, parece que é atingida por balas de canhão de todos os lados.

Depois, vem a parte mais experimental de Bad Luck Banging or Loony Porn, quando Jude coloca um glossário na tela. Ao contrário do esperado, não há didatismo aqui. Afinal, enquanto vemos os termos trazidos pelo cineasta e roteirista para destaque, ao mesmo tempo lemos informações sobre aquelas obras que vão se contradizendo. Fica claro que o filme é sobre a hipocrisia crescente de uma sociedade romena conservadora apenas nas aparências.


Depois, na terceira parte, Jude chuta a porta e grita: vivemos numa contradição, numa hipocrisia que não se sustenta. Afinal, nessa última parte da narrativa, Emília é coloca contra a parede. Sabemos, enfim, que ela é professora e que o vídeo já está circulando entre pais e mestres. Com um tom farsesco, que fica ainda menos natural por conta da própria farsa de nossa sociedade, Bad Luck Banging or Loony Porn se torna um manifesto contra a hipocrisia que reina no mundo.


Os pais dos alunos condenam o vídeo da professora, mas ignoram propositadamente que aquilo é sua vida íntima sendo devassada. O assunto, nesse terceiro ato, evolui a tal ponto que outras teorias malucas de conservadores vão surgindo — "é uma gripezinha", "Hitler era judeu" e coisas do tipo. Isso sem falar de toda a criação cênica de Jude, pensada justamente para nos mostrar como essas pessoas são burras: a forma como falam, a pretensa sabedoria, máscara no queixo.


No final, a tristeza que bate desse manifesto audiovisual é de que essa história passada na Romênia poderia acontecer bem aqui, no Brasil. E em muitos, muitos outros lugares do mundo. É algo generalizado. E qual a solução para isso? A cena final do longa-metragem, já histórica, mostra que às vezes precisamos usar nossas armas da maneira que for. E quando parecia que Jude não iria além de Eu não me Importo se Entrarmos para a História como Bárbaros...

 

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