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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Bem-vindos de Novo' é filme difícil que reflete sobre a humanidade de nossos pais


Cena do documentário Bem-Vindos de Novo

"Dekassegui" é o termo usado por japoneses para falar sobre aquele que trabalha longe, aquele que deixa sua terra natal para trabalhar em outro país. E é justamente esse o tema do forte e belíssimo documentário Bem-vindos de Novo, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 15.


O documentário acompanha o retorno de um casal de descendentes de japoneses que volta ao Brasil após passar 13 anos em busca de melhores oportunidades no Japão. No Brasil, esperam ansiosamente o casal seus três filhos. Um deles é Marcos Yoshi, realizador do documentário, que registra cada momento da família nessa retomada de seus pais de volta para casa.


Bem-vindos de Novo poderia ser um filme banal, em que essa família se reencontra e tudo vai bem. No entanto, nada aqui é fácil. Afinal, os pais foram embora quando os filhos ainda eram crianças e adolescentes. Agora, já crescidos, percebe-se uma desconexão. O patriarca da família até chega a verbalizar, em um dos momentos mais duros, que não reconhece mais os seus.


Yoshi, que está sempre em cena, retrata tudo com carinho, mas também com tristeza e melancolia. Em algum ponto do passado, do qual temos poucas imagens, a família sofreu uma profunda desconexão. Agora, fica evidente como todos ali tentam reencontrar o caminho.

O grande acerto do filme, porém, reside em algo maior do que apenas contar um retrato íntimo da família do cineasta. Bem-vindos de Novo extrapola seus próprios limites. Primeiramente, o filme se torna o retrato de milhares de famílias no Brasil, que é o principal lar de japoneses fora do Japão, que possuem essa desconexão causada pelo dekassegui. É a busca por oportunidade.


Mas, mais do que isso, o documentário mexe em uma ferida que impacta qualquer pessoa: pais e mães são seres humanos como qualquer um -- apesar de, muitas vezes, não parecer. Erram, acertam, amam, se decepcionam, decepcionam os outros, falham. Os pais de Marcos resumem isso tudo com sensações que vão pipocando na tela e, enfim, acertando no espectador.


Afinal, é possível se reconhecer ali e reconhecer seus pais. Ainda mais quando surge uma terrível vontade de julgar os personagens do documentário, ali no final da projeção, e esse sentimento volta com força: são seres humanos, que estão apenas em busca de uma boa vida.


Bem-vindos de Novo, assim, é um dos filmes mais interessantes desse primeiro semestre de 2023. Além de bem realizado, o filme consegue emocionar, conversar com o público, extrapolar os seus limites. Mostra como é feito um bom documentário, indo além do óbvio e do banal.

Nota 4/5 para o filme Bem-Vindos de Novo
 
Autor do texto de Bem-Vindos de Novo, Matheus Mans

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