Para o bem e para o mal, a série Black Mirror se tornou uma referência quando falamos sobre os malefícios da tecnologia e da hiperconexão -- não é à toa que virou a expressão "isso é muito Black Mirror, meu!". Com isso, é difícil dissociar tramas que tenham essa pegada, mesmo que não tenha sido a série inglesa da Netflix a inventora de distopias tecnológicas. E é por isso que Black Box, do Prime Video, soa tão pouco original.
Parte de uma celebração ao horror e produzido pela Blumhouse, o longa-metragem Black Box conta com uma premissa simples. Um homem (Mamoudou Athie) sofre um grave acidente de carro. Além de perder a esposa, o protagonista do filme também perde a memória. Com isso, ele precisa da ajuda da filha Ava (Amanda Christine) para fazer coisas banais do dia a dia e, assim, redescobrir sua identidade e entender quem ele é.
Dirigido por Emmanuel Osei-Kuffour (do elogiado curta Born with It), o filme rapidamente deixa essa premissa banal de lado para abraçar tecnologia avançada e uma sociedade que parece alguns passos à frente da nossa. O terror aqui não é tão proeminente, como a maioria dos filmes da Blumhouse, apostando mais em um drama de memórias, família e identidade com uma pitada de suspense psicológico bastante enérgico.
E isso funciona até uns 30 ou 40 minutos da projeção, enquanto Osei-Kuffour explora e trabalha esse roteiro cheio de camadas de Stephen Herman, Wade Allain-Marcus e do próprio cineasta. No entanto, uma pena, o filme acaba caindo nessa mesmice de outras produções. Além de parecer um episódio longo de Black Mirror, como já citado, o filme também lembra -- e bastante! -- as premissas de Fratura, A Descoberta e Corra!.
Dessa forma, Black Box fica numa corda bamba. Em alguns momentos traz sequências interessantes, muito por conta da atuação poderosa de Mamoudou Athie. Ele sabe fazer um trabalho muito difícil de modular emoções e comportamentos rapidamente, ficando visível a guinada na trama e em seu comportamento. Mas, para além disso, o longa acaba caindo em armadilhas que esses outros filmes semelhantes armaram.
No final, até temos uma experiência interessante -- muito, muito, muito melhor do que The Lie, outro filme que chega junto ao catálogo do Prime Video. Mas, falta aquele ar de originalidade, aquela sacada que olhamos para o filme e sabemos que sua história, e talvez sua mensagem, vá nos acompanhar por um bom tempo. Do jeito que ficou, infelizmente, é apenas um divertimento diferenciado. Nada grandioso ou memorável.
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