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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Cargo', da Netflix, é bom filme de zumbis, mas muito saturado


Os filmes sobre apocalipses zumbis ganharam tanto espaço no cinema que já é possível encontrar histórias de todos os gêneros e situações. Tem os excelentes (Extermínio), Invasão Zumbi) e os vergonhosos (Celular, O Retorno dos Mortos), tem dramas contundentes (Maggie), comédias absurdas (Zumbilândia) e produções de cair o queixo (Guerra Mundial Z), e tem filmes que entram, de fato, para a história do cinema (A Noite dos Mortos-Vivos).

Cargo, nova produção original da Netflix que chega ao streaming nesta sexta-feira, 18, é uma mistura de vários deles. Claro: não é uma comédia, nem uma produção de cair o queixo. Mas, sem dúvidas, o longa-metragem estrelado por Martin Freeman (Hobbit) é uma história de zumbis que se propõe a transformar o caos generalizado numa trama mais intimista, enquanto tenta desenvolver as relações humanas entre as pessoas que sobreviveram.

Para isso, a roteirista Yolanda Ramke, que também dirige ao lado de Ben Howling, opta por focar o tal apocalipse zumbi na história de um homem: Andy (Freeman). Sozinho com a esposa e a filha pequena num barco caindo aos pedaços, ele vê sua vida desabar quando a sua parceira é mordida por um ser infectado. Ele, então, parte numa busca desesperada para salvar a esposa e, claro, deixar a sua filha bebê em segurança com alguém confiável.

O filme começa com ares de Maggie -- longa com Schwarzenegger sobre um pai protegendo a filha infectada por zumbis. Há um quê trágico que permeia a produção desde o começo e que é amplificado pela fotografia arenosa do interior australiano e a trilha sonora com ares tribais. Dá medo todo o clima, mesmo sem uso de jumpscares e mesmo sem mostrar a figura de um zumbi por completo até os 20 minutos de projeção do filme.

Aos poucos, porém, os diretores Ramke e Howling -- que dirigiram o curta-metragem que inspirou este longa -- vão inserindo vários outros elementos dentro da narrativa para que a história não seja apenas uma jornada de pai e filha, ainda que esta dinâmica funcione em tela. Há, então, a menina indígena que não deixa rituais de lado, mesmo com o apocalipse; há a mulher que não se conforma com a situação; e o homem que não pensa nos outros.

Dessa teia de subtramas, apenas algumas coisas funcionam. A vida da garota indígena (Simone Landers) e seus rituais possuem alguns pontos interessantes, mas não tem todo o espaço que precisa -- um filme unicamente sobre isso seria muito mais interessante. Caren Pistorius dá um ar interessante à trama, mas é pouco aproveitada. Só o antagonista de Vic (Anthony Hayes) -- que reverbera em Invasão Zumbi -- é que funciona totalmente.

O grande cerne da produção é, enfim, a relação de Andy com a bebê. Por mais que a roteirista encha a trama de outras histórias para dar estofo e ir além do curta que ela e Howling desenvolveram, a alma do filme continua sendo intimista e de drama familiar, elevando aspectos como paternidade, responsabilidade afetiva e compromisso com quem não pode se defender. É essa imagem que Cargo deixa ao final, fazendo todo resto soar supérfluo.

Cargo, então, é um bom filme de zumbis. Foca numa trama desesperadora e realista, ainda que não seja totalmente original, para conseguir criar um vínculo forte com a audiência. Pena que o desespero dos diretores e da roteirista por dar estofo à história não ajude a compôr o filme como um novo marco do cinema de zumbis. É bom, mas muito saturado. Quem sabe uma produção futura da dupla foque na menina indígena e, assim, eles terão a possibilidade de criar uma trama verdadeiramente original e marcante.

 
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