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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Carvão' é filme brasileiro ligado com o pior do Brasil profundo



Durante a pandemia de covid-19, o Brasil conheceu o pior do ser humano. Não só o presidente da República agiu como uma criança mimada e birrenta, ocasionando a morte de milhares, como o próprio sistema de saúde agiu de maneira torta -- a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia descobriu que a Prevent Senior simplesmente não se preocupava, como deveria, com a vida dos idosos. Até que ponto chegamos? É sobre isso que reflete o forte Carvão.


Dirigido pela até então curta-metragista Carolina Markowicz, o longa-metragem tem uma história provocativa: fala sobre uma família (Maeve Jinkings, Rômulo Braga e Jean de Almeida Costa) que toma uma decisão inesperada para, assim, poder receber um convidado estrangeiro em sua casa por algum tempo. Confuso? É um pouco quando contamos sem dar muitos detalhes, mas é preciso para que Carvão cause todo o impacto possível com a força da história.

O fato é que Markowicz traduz, no longa-metragem selecionado e exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, esse sentimento de descarte que se abateu na sociedade durante a pandemia. Quanto vale uma vida? Quais são os limites? Pensando nisso tudo, o filme brinca com o bizarro e a tragédia para provocar. Traz temas densos em uma atmosfera controlada, com poucos personagens, para que possamos compreender os efeitos imediatos.


O mais interessante, porém, é como a cineasta consegue mergulhar no Brasil profundo, em um brasileiro que foge dos retratos convencionais e que tem a figura da família tradicional em outro cenário -- é o pai que luta pelo sustento, a mãe religiosa, o filho que precisa seguir tudo na linha. Quando esse personagem estrangeiro entra, o mais profundo de cada um vem à tona. A homossexualidade, o desejo pelo outro, a falta de afeto. É um emaranhado fatal de provocações.


Jinkings, como já tinha mostrado em filmes como Duetto e Açúcar, é uma atriz de mão cheia: ela chega com força em cena, levando todo o elenco de Carvão junto. É ela quem causa a maior parte do desconforto e, quando surge a reviravolta final, é em cima da personagem dela que dá pra perceber a transformação da indiferença. No final, fica martelando aquela pergunta: vale tudo por dinheiro? Até que ponto nossa sociedade pode ser comprada, ludibriada e enganada?

 

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