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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Casal Improvável' é besteirol ácido e divertido


Fred Flarsky (Seth Rogen) é um jornalista cheio de ideais e que não aceita ser comandado por grandes conglomerados de mídia. Por isso, ele se vê obrigado a sair de seu emprego quando o jornal em que trabalha é comprado por um magnata. Sem trabalho, acaba saindo na noite com um amigo de faculdade e, naqueles acasos do destino, reencontra a ex-babá Charlotte Field (Charlize Theron). Só que agora ela não cuida mais de criança. É Secretária de Estado e irá concorrer à presidência dos EUA. É a deixa para os dois engatarem um romance que estava adormecida há muitos anos.

Assim, Casal Improvável, de Jonathan Levine (Sexo, Drogas & Jingle Bells), faz piada com o relacionamento de duas pessoas que são opostas. Ele é fracassado, está sem emprego, vive num muquifo e não passa por cima de seus ideais. Ela, enquanto isso, faz de tudo para chegar ao cargo máximo da nação e se submete a algumas decisões que contrariam seu senso ético. Aí vem a pergunta principal do filme: como fazer esse casal dar certo enquanto ela concorre à presidência e precisa manter boa imagem pública? Pior: como fazer dar certo quando ele é convidado a trabalhar no comitê da candidata?

Obviamente, a comédia é escrachada, beirando o besteirol -- pode-se dizer que há apenas um cena, mais pro final do longa, que abraça de vez esse gênero que fez fama com Rogen (Vizinhos). De resto, o filme fica numa eterna transição de gêneros. Em alguns momentos é comédia contida, em outros romance, às vezes é ação (pois é!), cai de vez em quando no besteirol e até abraça o drama. É uma salada de sensações que poderia ser um erro se Levine, que está se especializando no gênero, não perdesse o seu norte: a piada. Não importa o gênero que está na tela. O riso é o objetivo final.

E, na maioria das vezes, funciona. Casal Improvável tem um humor moderno, bem pensado, que mostra algumas mudanças que aconteceram ao redor do mundo. A mulher já pode -- e deve -- alcançar altos cargos de governança. E, por vezes, ser a pessoa "provedora" da relação. Isso, curiosamente, não é colocado em dúvida em momento algum do filme. É tratado de forma natural. Outras mudanças do mundo contemporâneo, como um amigo negro ser conservador e votar no partido conservador dos EUA, geram algumas piadas e ainda ajudam a situar o filme no mundo moderno.

Destaque para uma situação envolvendo uma tatuagem de suástica -- e como o personagem de Rogen lida com ela --, uma observação quando o casal aterriza na Argentina e uma bem mais pro final, quando o amigo negro e conservador faz um gesto muito conhecido na cultura pop. Difícil segurar o riso em qualquer uma das situações.

Rogen e Theron (Tully) não possuem química, mas tudo bem. A graça entre os dois funciona. O que é complicado de perdoar é uma barriga narrativa no meio do filme. É aquela sensação de que a história que está sendo contada vai de nada à lugar nenhum. E de fato. Há uma série de acontecimentos que surgem ali e que pra nada servem. Inclusive uma sequência de ação, envolvendo um atentado terrorista. Nada a ver ali.

Mas tudo bem. O elenco de apoio, aliás, ajuda muito a esquecer esses problemas. Andy Serkis (sim, o do CGI, que fez o Gollum) está irreconhecível como o tal magnata de empresas de notícias. Bob Odenkirk (Better Call Saul) está surpreendentemente divertido e faz piadas que dialogam com a política moderna e até mesmo com a sua situação como ator. Por fim, destaque para um irreconhecível -- e estranhíssimo -- Alexander Skarsgård (A Lenda de Tarzan), que faz um tipo divertido e excêntrico.

Casal Improvável, em resumo, quer te fazer rir. E, sem dúvidas, cumpre seu objetivo. E mais: ainda faz pensar sobre um punhado de coisas, cria um bom romance e te faz ficar aflito com certas situações. Rogen e Theron não formam um casal possível e isso, de certa forma, tira pontos. O roteiro também é problemático. Mas as piadas e a direção de Levine ajudam a tapar esses buracos provisoriamente. Vá no cinema aberto para a diversão. Assim, encontrará besteirol ácido, moderno e, como deve ser, muito divertido.

 

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