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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Chamas da Vingança' não convence com trama sem força


Stephen King não estava bem. Lá pelos idos dos anos 1980, o norte-americano estava passando pelo período mais turbulento de sua vida, abusando de álcool e drogas pesadas -- não à toa, o autor já contou, em seu livro Sobre a Escrita, que a década é um borrão para ele. Não se lembra sequer dos livros que escreveu. Entram nessa lista obras como Cujo, Christine, O Cemitério, It: A Coisa e, entrando no assunto desse texto, A Incendiária, obra adaptada em Chamas da Vingança.


Estreia desta quinta-feira, 19, o filme conta a história de uma garotinha (Ryan Kiera Armstrong) que, tal qual uma mutante do universo de X-Men, tem o poder de criar fogo. É, como diz o título do livro em português, uma incendiária. Os pais (Zac Efron e Sydney Lemmon) fazem de tudo pra tentar impedir que a criança se machuque ou machuque os outros ao redor. Mas não adianta: ela está crescendo e, aos poucos, perdendo a capacidade de controlar esse dom tão poderoso.


É uma trama simples e que adapta fielmente o livro de King -- e é esse o problema. Nessa época em que estava mergulhado no vício, o autor de Maine, nos Estados Unidos, teve uma carreira extremamente irregular. Há livros brilhantes, como It: A Coisa, e outros sem muita força e sem história, como A Hora do Lobisomem e, justamente, A Incendiária. Não é um livro ruim, mas peca em ser muito corrido (127 páginas!) e por não ter um arco dramático muito bem definido.

Quando o diretor Keith Thomas (The Vigil) e o roteirista Scott Teems (Halloween Ends) seguem pelo caminho da fidelidade e de colocar quase que exatamente o que King pôs nas páginas, o filme perde qualquer força dramática que poderia ter. Fica estranho, entrecortado, assim como é no livro. No entanto, enquanto a obra escrita permite que o leitor preencha lacuna com a sua imaginação rapidamente, o mesmo não funciona no cinema. Há menos espaço para o receptor.


Chamas da Vingança, então, se torna um filme sem personalidade e sem história. Há uma certa tentativa em trazer um ar kitsch para a produção, bem oitentista, mas não vai além -- Thomas parece ter medo de mergulhar em todas as possibilidades desse estilo. O terror não chega com força, enquanto o drama fica aquém do que poderia ser. Muito também por conta de atuações ruins: até a garotinha fica bem abaixo do que Drew Barrymore fez no passado, no filme de 1984.


Nem mesmo a metáfora da puberdade e do crescimento da menina, algo que é tão bem aproveitado na história de Carrie: A Estranha, cai por terra aqui. É o mesmo que acontece no livro, mas não precisaria ser. Faltou originalidade. Com isso, Chamas da Vingança entra em uma pilha de adaptações ruins dos livros de Stephen King. Não tem personalidade, não dá medo, não empolga. Só a trilha sonora, assinada também pelo mestre John Carpenter, funciona. E olhe lá.

 

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