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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Comboio de Sal e Açúcar' erra em amadorismo narrativo


É louvável a empreitada do diretor, roteirista e escritor Licínio Azevedo. Ainda que tenha nascido no Rio Grande do Sul, ele acabou se fixando em Moçambique e por lá criou as suas raízes. Desde então, já esteve por trás de filmes como o belíssimo Virgem Margarida e do importante documentário A Guerra da Água. Todo seu trabalho, porém, desemboca em Comboio de Sal e Açúcar, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 7.

O filme, situado nos anos 1980, acompanha a trajetória de um trem no país africano e que tenta atravessar com segurança seus territórios. Guardado pelo exército, o comboio transporta quilos e quilos de açúcar, um insumo raro em tempos de guerra e que é alvo de grupos rebeldes. A trama, porém, detalha a vida de alguns dos passageiros desse trem; principalmente o soldado Taiar (Matamba Joaquim), do capitão Sete Maneiras (Antônio Nipita), da enfermeira Rosa (Melanie de Vales Rafael) e do temível Salomão (Thiago Justino).

Como dito no começo do texto, a história em si é louvável. Infelizmente, pouco se sabe da situação de Moçambique e de sua história, mesmo o Brasil tendo um parentesco linguístico e cultural com o país africano. O cinema de lá -- assim como de toda África -- também chega pouquíssimo ao Brasil, limitando o acesso e a possibilidade das pessoas se aprofundarem na cultura de Moçambique. Licínio, então, continua com uma tarefa gloriosa em mãos.

Só que, infelizmente, Comboio de Sal e Açúcar conta com alguns problemas difíceis de ignorar mesmo frente à esse contexto. Ainda que a direção de Azevedo seja talentosa, principalmente na questão de enquadramentos, e a trama tenha uma linearidade interessante, há aspectos da produção que refletem em demasia a falta de experiência cinematográfica do país e que dificultam uma imersão completa da audiência dentro da história.

A começar pelos atores. Do quarteto principal, só a estreante Melanie de Vales Rafael que agarra o papel com unhas e dentes e consegue entregar um naturalismo interessante à sua personagem. Matamba Joaquim (Capitão Falcão) não consegue criar mais do que o roteiro entrega, Antônio Nipita (Ruth) é subaproveitado e o carioca Thiago Justino (Real) parece ficar preso numa interpretação automática e brutal demais. Não vai pra frente.

O grande problema, porém, é a narrativa. Adaptado de um romance homônimo de Licínio, o filme parece que não avança, não flui. Ao invés de ter uma trama focada no percurso do trem e as limitações desse cenário -- como Expresso do Amanhã fez, apenas para lembrar de um exemplo imediato --, o filme acaba se perdendo em histórias pouco importantes e em dramas pessoas que não convencem por conta das atuações.

Com o passar do tempo, então, Comboio de Sal e Açúcar vai desinflando até virar apenas uma casca do que prometia -- e poderia -- ser. É bem fotografado, bem filmado e tem um bom argumento, mas o cerne da história se perde em amadorismos cênicos, que beiram novelas mexicanas, e uma narrativa confusa e que não se decide. Mas vale para conhecer, junto do ótimo Virgem Margarida, um pouco mais da história de Moçambique. É necessário.

 

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