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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Dançando no Silêncio' mostra a emoção com a arte em ambiente opressor


Quando assisti a Papicha, há alguns anos, fiquei encantado: o longa-metragem é um belíssimo filme de resistência que fala sobre uma jovem usando a moda para lutar contra a opressão na Argélia -- e o final é de quebrar o coração. Por isso, fui com bastante sede ao pote para conferir Dançando no Silêncio, novo longa de Mounia Meddour e que estreia nesta quinta-feira, 4.


Aqui, Meddour reutiliza muitas coisas que já deram certo em seu outro filme. A ótima Lyna Khoudri retorna como protagonista, enquanto o filme também fala sobre um tipo de arte como resistência -- só que aqui sai a moda e entra a dança. A personagem vivida por Lyna, Houria, é uma bailarina que sofre uma violenta tentativa de assalto após vencer uma aposta.


Como consequência, além do trauma, a protagonista fratura um dos tornozelos e não consegue mais continuar na escola de balé. Outro problema vem a partir do choque: Houria, assim como muitas pessoas que sofrem um trauma como esse, fica sem voz. Não consegue se comunicar -- não quer se comunicar. A voz fica presa na memória daquele ato, daquele dia, e não volta.

A partir daí, Meddour comanda um filme que fala sobre essa jovem tentando reaver sua vida com aquilo que mais ama: a dança. É bonita a forma que ela enxerga a possibilidade de recuperação em uma Argélia que, sob a visão da cineasta, é bastante inclemente com as mulheres, mas permissiva com os homens que praticam violência e continuam suas vidas.


Uma pena que o meio de Dançando no Silêncio seja tão apagado, tão sonolento -- um problema que já aparecia de relance em Papicha. Meddour sabe muito bem começar e terminar histórias, causando impactos emocionais fortíssimos, mas o segundo ato desse filme não funciona: parece que ela está enchendo linguiça com uma trama que anda em círculos e traz poucas novidades.


Pior: o roteiro, assinado pela própria cineasta, dá saltos temporais que deixam tudo muito apressado. É difícil não apenas se inteirar da recuperação da protagonista, como também não é fácil comprar as amizades que ela faz pelo caminho ou, até mesmo, que existiam antes. Uma perda forte para Houria, já no final, traz pouco impacto justamente pelo rápido desenvolvimento.


Se Meddour tivesse um pouco mais de calma na forma de contar a história de Dançando no Silêncio, seria um dos melhores filmes do ano. Grande atuação da protagonista, boa ideia de história, boas reflexões, final impactante (ainda que não tanto quanto Papicha). Só faltou mais calma, mais criação. Ainda assim, vale continuar de olho nos trabalhos dessa cineasta.

 

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