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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'De Perto Ela Não é Normal' é bobagem que beira o inexplicável


Não dá pra entender. Na verdade dá sim, e isso dá uma raiva tremenda. Como filmes como De Perto Ela Não é Normal, que beira a nulidade em termos de qualidade, é financiado para as telonas? Geralmente não sou tão duro em minhas críticas — o outro filme de Cininha de Paula, Duas de Mim, tentei encontrar pontos positivos. Mas, com essa bomba aqui, fica impossível.


Dirigido por Cininha, de Crô em Família, De Perto Ela Não é Normal conta a história de Suzi (Suzana Pires), uma mulher cheia de sonhos, mas que vive uma vida de frustrações. Afinal, ela não fez tudo o que queria, tem um cotidiano monótono e seu casamento não vai bem. Até o momento que ela reencontra uma tia (Pires, novamente) que a faz dar uma guinada na vida.


Baseado em uma peça de sucesso estrelada pela própria Suzana Pires, De Perto Ela Não é Normal parece uma mistura desconjuntada de Minha Mãe é uma Peça, Os Homens São de Marte... E É Pra Lá Que eu Vou e Sai de Baixo. Afinal, o humor tenta surgir a partir de bobagens cotidianas, enquanto uma trama rasa tenta apostar numa jornada de autodescoberta tardia.


É tudo errado. Ainda que a mensagem seja positiva, ainda mais em tempos em que a sororidade e o feminismo entram em pautas cada vez mais profundas, o filme não sabe para que lado atirar. Modula seu tom entre uma emoção brega com piadas de gosto duvidoso. As cenas com a excepcional Cristina Pereira, por exemplo, dão vergonha. O filme não tem identidade, nem tom.

Afinal, em alguns momentos o espectador se depara com piadas escatológicas, em outros dá de cara com uma narrativa emocional. As coisas não combinam. Pior: todo o elenco está histriônico, fora de tom — e isso, obviamente, não é culpa dos atores. Pires está absolutamente irritante quando faz a tia. Até Orlando Drummond, em uma participação especial, fica mal.


A sensação, assim, é que o filme pega um apanhado de tudo que já fez sucesso nas comédias nacionais, junta em um único pacote e entrega isso ao espectador, tudo bagunçado e desconjuntado. Sem acertar o tom, De Perto Ela Não é Normal não emociona, nem empolga ou diverte. É um filme vazio de essência, que dificilmente vai causar o efeito desejado no público.


E assim volto à frase inicial: não dá pra entender. Em tempos em que o dinheiro para o cinema é escasso, deveríamos estar produzindo o que há de melhor por aí. E não só projetos independentes. Façamos comédias que sejam realmente engraçadas e bem dirigidas, com alguma qualidade — como o recente Minha Vida em Marte, que rendeu boas gargalhadas.


Não gosto, pessoalmente, de ser tão negativo em críticas, ainda mais de filmes nacionais. Não acho justo, afinal sempre dá para encontrar algo de positivo no cinema. Mas não nesse caso, não nesse momento. É um filme indigesto, triste e é inacreditável como filmes assim ainda garantem espaço. Desculpa, Cininha. Ao contrário de Duas de Mim, não deu pra te defender.

 
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