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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'De Repente, Miss!' tropeça na própria gordofobia que tenta combater



É um tanto constrangedor assistir a De Repente, Miss!, comédia nacional que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 23. Dirigido por Hsu Chien (Ninguém Entra, Ninguém Sai), o longa-metragem conta uma história simples: uma família viaja para um resort. É a chance da mãe (Fabiana Karla) descansar da rotina. No entanto, lá ela entra em uma inesperada competição de miss, organizada por Gigi (Nany People) e que tem a bela Flávia (Danielle Winits) como favorita.


O longa-metragem, que entra em uma leva de filmes brasileiros recentes sobre viagens (Partiu, América!, Férias Trocadas, Dois é Demais em Orlando), tem um objetivo claro e evidente, além de fazer rir: tentar transmitir uma mensagem de superação, superando a gordofobia ao redor.


O fato é que o longa-metragem, tentando se afastar de qualquer discussão mais aprofundada, em momento algum fala corretamente sobre o que a personagem está passando -- afinal, Mônica, a personagem de Fabiana, é vista como um peixe fora d'água pelas outras competidoras. Qual o motivo disso? Ela regula de idade com as outras, é mãe assim como a personagem de Danielle Winits. O roteiro tem medo de apontar a gordofobia dos outros.


Sendo assim, De Repente, Miss! se esconde em determinadas situações evitando o conflito. Pior: mesmo com a situação assim estabelecida e compreendida pelo espectador, que percebe logo o motivo do preconceito contra Mônica, o filme não consegue trazer boas mensagens.



Há uma tentativa, no final da comédia, de mostrar que "é isso, você pode superar os seus problemas, você consegue" apenas pela personagem ser gorda. Parece uma torcida para que ela supere as dificuldades que surgem a partir disso, como se as pessoas gordas precisassem disso. "Você, mulher gorda, também pode se superar; acredite!": é a mensagem que surge.


Bem no começo do Esquina, fiz um texto bem ácido -- e um tanto cruel, admito hoje -- falando que o longa-metragem Ninguém Entra, Ninguém Sai era um desserviço ao cinema nacional. Acho que exagerei na agressividade contra esse filme de Hsu Chien, mas ainda penso que tenho um ponto: filmes como esse, e como De Repente, Miss!, causam uma sensação de vazio que, muitas vezes, é ampliada pelo espectador para outras produções produzidas em solo nacional.


Alguém que cai de paraquedas neste filme de Fabiana Karla -- assim como caiu de paraquedas no filme tenebroso de 2017 -- pode generalizar achando que todos os filmes brasileiros são assim, sem vida, sem vontade, sem propósito e com ideias mal amarradas. Obviamente, não é obrigação do cineasta trazer novidades a cada novo filme que faz. Mas é desesperador para os espectadores encontrar tanta coisa feita sem aquela gana de trazer, ao público, um bom filme.


Pior: com De Repente, Miss!, um filme que sequer sabe trazer uma mensagem para o público pensar, mesmo com duas boas atrizes (Karla e Benite) à disposição. A sensação que chega, para nós, críticos de cinema, é de decepção, de desânimo. Para onde vamos com esses filmes? Pelo menos, nesta mesma quinta-feira, 23, Hsu Chien lança uma comédia romântica simpática de tudo: Morando com o Crush, também com Giulia Benite. Um bom refresco depois desta bomba.

 

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