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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Delicado e sensível, 'Benzinho' é um dos melhores filmes do ano


Que ano para o cinema nacional! Em oito meses, o Brasil já teve o prazer de ver filmes como Aos Teus Olhos, A Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro, Arábia e As Boas Maneiras. E quando parecia que não tinha como melhorar, Gustavo Pizzi e Karine Teles entregam ao público o excepcional Benzinho, que chega às salas do País nesta quinta-feira, 23.

O longa-metragem possui uma história corriqueira, quase banal. Nela, Irene (Teles) é uma mãe preocupada com a subsistência de sua família. A casa está caindo aos pedaços, o marido Klaus (Otávio Müller) não consegue ganhar dinheiro, o filho mais velho (Konstantinos Sarris) está indo pra Alemanha, e a irmã (Adriana Esteves) apanha do marido.

Quase sem querer, e seguindo a maré social, ela fica encarregada de suportar todos esses problemas, essas dúvidas e essas questões. Só que, é claro, isso não é fácil: ela, afinal, tem vários outros problemas, dúvidas e questões. Fica difícil suportar e aí entra o mote do longa, que tenta ver até quando vai o papel de uma mãe, até quando ela deve aguentar.

Pra embalar essa história numa ótima essência, Gustavo Pizzi (Riscado) mostra um talento absurdo. Cada frame, cada ângulo, cada som e cada posicionamento do ator em frente às câmeras tem um sentido. É a torneira que estoura no momento em que a mãe recebe uma notícia bombástica; passando por lindas imagens metafóricas de Teles em um lago com o filho; e indo até o último olhar na tela, que muito significa e emociona.

O elenco também está fora do normal. Adriana Esteves (Canastra Suja), Mateus Solano (Talvez Uma História de Amor), Francisco Teles, Arthur Teles e Luan Teles entram muito no clima do longa-metragem e ajuda a compôr a trama -- por menor que seja a participação de cada um, como é a de Solano. Mas a alma das interpretações está em Otávio Müller (Alemão), Konstantinos Sarris (Pedro sob a Cama) e, claro, Karine (Que Horas Ela Volta?).

Sarris traz uma irritação típica da adolescência muito sagaz, muito viva. Algumas de suas atitudes irritam, mas é proposital. Afinal, existe fase mais chata da vida? É muito bem desenvolvido. Otávio Müller, enquanto isso, apresenta um marido tão batido e tão "dentro do esperado", que sua atuação se destaca. Mas Karine Teles rouba a cena com uma naturalidade desconcertante. Uma cena de surto na cozinha é forte e impactante. Que atriz!

Vale ressaltar, também, os cuidados de roteiro, direção de arte e sonoplastia. Essas três características, como devem ser, andam juntas. Ainda que a história tenha uma ou outra falha, como a falta de continuidade em algumas histórias e a pouca exploração da temática envolvendo Adriana Esteves, tudo é muito inteligente. Só a mixagem de som vale uma matéria aqui no Esquina, destacando os novos aspectos dessa produção tão esquecida.

Benzinho, assim, é um filme pra se aplaudir, para varrer os prêmios por aí e, sem dúvidas, ser o representante brasileiro no Oscar 2019. Afinal, é o que todo mundo quer e espera: um longa-metragem verdadeiro, honesto, muito bem feito, com uma técnica impecável e uma história genuinamente brasileira. É de temática global, sim, mas com detalhes tão tropicais e íntimos de nossa realidade que é difícil não sentir afeto. Vale o ingresso.

 
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