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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Desconfortável, 'Vox Lux' destrincha preço da fama


Celeste (Raffey Cassidy/Natalie Portman) é uma estrela pop que parte para o sucesso por meio de circunstâncias anormais, indo da tristeza de uma tragédia para o centro dos palcos. A partir disso, o cineasta Brady Corbet (A Infância de um Líder) tece a jornada desta cantora a partir de vários acontecimentos do século XX e XXI, mostrando como o mundo molda uma pessoa -- e como a fama tem um preço caro a ser cobrado do astro. Esta é a trama de Vox Lux, longa-metragem que estreia no Brasil nesta quinta-feira, 28.

Com inspirações em Lars Von Trier e Gus Van Sant, Corbet não tem medo de chocar e de incomodar ao longo da produção. Bem produzido, o filme traz aspectos inusitados pra composição da personagem central, que ganha camadas raras no cinema convencional. Muitos podem dizer, com razão, que o cinema de Corbet é pretensioso. Mas ele é duro, cruel, extremamente naturalista. Algo raro no cinema de hoje, repleto de pirotecnias.

Mas esse realismo exacerbado do cineasta não surtiria o efeito necessário se alguns vários aspectos trabalhassem a seu favor. O primeiro deles: o bom roteiro, fora dos padrões, escrito pelo próprio Corbet. Ele avança a passos rápidos, com cortes brucos de tempo, ajudando a fazer com que Vox Lux tenha um ritmo alucinante, fazendo sentido com tudo que está sendo sentido. Há falhas e barrigas, mas não atrapalham no geral.

Outro ponto que conta a favor de Corbet no sentido de seu realismo exacerbado: as atuações primorosas de Natalie Portman e Jude Law. Ela não é vista tão bem nos cinemas desde Cisne Negro -- aliás, difícil não fazer uma comparação e considerar Vox Lux uma espécie de "Cisne Negro da dança". Ela entra de cabeça na personagem com maneirismos, gestos e vícios que ajudam a dar liga nas várias camadas sobrepostas.

Afinal, antes dela, há a atuação da novata Raffey Cassidy (O Sacrifício do Cervo Sagrado), que já agrega algumas coisas à personagem. Ou seja: mais do que criar uma personagem, Portman precisa dar continuidade a uma personalidade já criada antes.

Jude Law, enquanto isso, faz um personagem repleto de misticismos e que abre espaços para uma bizarra interpretação a partir da trama que é criada. Ele fica no limite do caricato, mas consegue manejar. Sem dúvidas, uma atuação intensa e marcante.

A única coisa que faz com que Vox Lux perca um pouco a força, e faz com que o cinema pretensioso de Corbet tome conta da história, é o final. Espécie de momento anti-filme, indo numa direção totalmente oposta ao que Bohemian Rhapsody fez em sua conclusão, o final do longa-metragem com Natalie Portman sabe o que o espectador espera em seu encerramento, faz segue numa direção totalmente contrária. Muitas pessoas vão se irritar, algumas outras não vão entender. O fato é que o diretor quis provocar. Conseguiu.

Vox Lux é um filme forte, dramático, intenso e há até uma certa dúvida sobre a pertinência do lançamento no Brasil após o massacre em Suzano. Mas, apesar de ser pretensioso e anti-climático em vários momentos, é um bom exemplo de direção autoral e criativa. Há falhas, há barrigas. Mas a reflexão surge e é um dos melhores exames sobre o preço a ser pago pela fama. Se gosta de filmes fortes, reais e ousados, ele é pra você. Mas não espere algo convencional, banal. Este filme é tudo menos isso.

 

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