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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Dois Estranhos', da Netflix, é curta-metragem certeiro sobre violência policial


Geralmente, as tramas de loopings temporais contam histórias bem similares. Misturam comédia com lições de moral sobre tempo e aproveitamento do presente, como Feitiço do Tempo e Palm Springs. Só um ou outro vai por um caminho mais diferente, como No Limite do Amanhã. Por isso, que agradável surpresa é Dois Estranhos, curta da Netflix indicado ao Oscar.


Dirigido pela dupla Travon Free e Martin Desmond Roe, o curta-metragem é o que traz a mensagem e a história mais atual dentre os indicados da categoria na premiação da Academia. Afinal, por meio de uma trama com looping temporal, entramos na vida de Carter (Joey Bada$$), um rapaz negro que acorda na casa da ficante e tem como objetivo ir pra casa ver seu cão.


No entanto, no meio do caminho, ele encontra um policial. Sofre uma inspeção violenta, é agredido e, alguns segundos depois, assassinado. Já no segundo seguinte, surge a grande sacada do roteirista, e também diretor, Travon Free: Carte acorda novamente na cama de sua ficante. Voltou no tempo. Ele novamente levanta da cama, sai de casa e... é morto novamente.

A partir daí, pegando como gancho as revoltas sinceras e honestas dos cidadãos dos Estados Unidos com a morte de George Floyd e de tantos outros, mergulhamos nesse ciclo de violência sem fim. Por meio desse artifício tão batido dos cinemas, vamos entendendo melhor o medo das pessoas negras de apenas sair na rua, de viver suas vidas, sempre com uma ameaça por ali.


Mais do que uma narrativa para provocar riso, o looping temporal aqui serve como ponto de partida de uma reflexão melhor. Afinal, não importa o que Carter faça, o policial está ali para colocar um fim em sua existência. Aliás, vale a pena destacar Bada$$ e de Andrew Howard, este último como o policial. A atuação de ambos está sob medida, sem exageros ou fraquezas.


O único problema de Dois Estranhos está numa subtrama ali pelo final, quando há uma narrativa que não faz muito sentido e não é muito bem explicada. Mas tudo bem. A força da trama continua viva, se fazendo presente, e principalmente causando uma reflexão forte sobre o que está acontecendo logo ali, na nossa vizinhança. E anote: Dois Estranhos vai levar o Oscar.

 
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