O ano de 2018 não foi incrível para atuações femininas. Os dois únicos nomes fortes no páreo de Melhor Atriz no Oscar são Olivia Colman, por A Favorita; e Glenn Close, por A Esposa -- o Esquina, aliás, aposta nesta última para o prêmio. Por fora ainda corre Lady Gaga, com a atuação canastrona em Nasce Uma Estrela. Ou seja: sobram duas vagas na categoria que não devem converter para prêmios de fato. Serão apenas duas indicações para preencher as cinco posições. E uma delas deverá ficar com Nicole Kidman, por sua atuação no drama policial O Peso do Passado, que chega aos cinemas nesta quinta, 17.
A trama acompanha a história de Erin Bell (Kidman), detetive machucada por seu passado. A idade já está aparente, o corpo já não reage como antes. No entanto, mesmo com essa sombra temporal circundando sua existência, a policial se vê envolvida num caso que reacende antigas chamas e faz com que ela busque, enfim, vingança e justiça por uma antiga confusão envolvendo seu parceiro Chris (Sebastian Stan). Para isso, ela precisará confrontar medos, família e resolver algumas de suas antigas pendências.
O Peso do Passado -- que tem um título original bem melhor, Destroyer -- não tem uma história original, cativante ou que deixe o espectador grudado na telona. Filmes sobre policiais fracassados, que servem quase como anti-heróis, são cada vez mais frequentes, principalmente após o sucesso da primeira temporada de True Detective. É algo que, como qualquer outra história ou gênero, encontrou sua parcela de público e agora é explorado à exaustão. Nicole Kidman, aqui, faz as vezes de policial durona, que não segue as regras, e tenta cumprir uma determinada missão custe o que custar.
Nesse sentido, a atriz se sai bem. Ainda que em algumas momentos a atuação seja exagerada, colocando em cheque sua possível indicação ao Oscar, Kidman (Aquaman) segue certa coerência em sua interpretação. O cansaço da personagem é evidente na tela -- talvez por levar o filme nas costas. Ao seu redor, nenhum outro ator é exigido à altura da veterana. Stan (Capitão América: O Soldado Invernal) fica apenas no conforto, Toby Kebbell (No Olho do Furacão) mostra-se novamente como sendo apenas mediano e Bradley Whitford (The Post) faz apenas uma rápida participação especial.
Dessa maneira, com a diretora Karyn Kusama (do ótimo O Convite) apostando todas as suas fichas na personagem e na atuação de Kidman, o filme fica inteiro ao redor do desenvolvimento de Erin Bell. O roteiro, escrito por Phil Hay (Fúria de Titãs) e Matt Manfredi (R.I.P.D. - Agentes do Além), dá voltas e mais voltas e mais voltas na trama da personagem, sem dar chance para o resto da trama deslanchar. Uma história envolvendo a filha de Erin até desperta certo interesse, mas acaba morrendo com uma decisão ruim na conclusão. Tudo ali é ao redor da detetive embriagada e cansada.
Dessa maneira, O Peso do Passado acaba sendo um filme convencional e que fica circundando uma história nem tão interessante assim. Só uma ótima atuação, que não chega a ser incrível ou excepcional, não segura um filme por si só. A trama ganha fôlego e a atenção da audiência apenas em sua parte final, quando um elemento essencial é trazido à tona como reviravolta. Só que ao invés de enxergar o filme todo com outros olhos, fica mais evidente o desapontamento de não ter recebido tal informação antes. O filme ficaria mais interessante e o espectador saberia, de fato, qual o "peso do passado."
Kidman, certamente, merecia um filme à altura para sua entrega. Dessa vez, não deu.
Comments