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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Dramalhão, 'Um Pequeno Favor' erra no tom e na história


Muito foi alardeado de que Um Pequeno Favor seria o novo Garota Exemplar -- meta que vem sendo perseguida por alguns estúdios há certo tempo. Novamente, porém, a tentativa bate apenas na trave e deixa A Garota no Trem como o único filme que, de algum jeito, conseguiu reproduzir a claustrofóbica sensação de thriller doméstico. Nesta nova tentativa, afinal, Paul Feig erra a mão e transforma o suspense em um dramalhão vergonhoso.

O longa-metragem começa com o início da amizade de Stephanie (Anna Kendrick) e Emily (Blake Lively). A primeira é uma dona de casa solitária que encontra conforto em um canal de dicas maternas no YouTube e nos cuidados com seu pequeno. A outra é a rica assessora de um estilista e que não tem tempo para seu filho. Elas se juntam, justamente, quando as duas crianças ficam amigas e passam a frequentar a casa um do outro. Segredos vêm à tona, confissões são feitas, vínculos são fortalecidos e por aí vai.

A coisa desanda de vez, porém, quando Emily some do mapa, causando um grande transtorno na vida de Stephanie e do marido da ricaça, o escritor Sean Nelson (Henry Golding). O que aconteceu com ela? Por qual motivo Emily decidiu desaparecer sem avisar? Será que está viva? Ou, ainda, será que está pregando peça nas outras pessoas?

É em cima dessas perguntas que o diretor Paul Feig (A Espiã que Sabia de Menos) e a roteirista Jessica Sharzer (Nerve: Um Jogo Sem Regras) constroem a narrativa. Logo no começo, funciona. Afinal, Blake Lively (Águas Rasas) encarna como ninguém o papel de megera excêntrica, enquanto Anna Kendrick (A Escolha Perfeita 3) recai, novamente, em um papel de dona de casa simpática, engraçadinha e por aí vai. É mais do mesmo, mas funciona.

Há certo clima de tensão no ar que é bem conduzida por Feig, que consegue mesclar momentos leves e divertidos -- como uma dancinha de Stephanie e uma revelação entre as duas -- com outros de pura tensão, como uma reação da personagem de Blake Lively à uma fotografia. É uma dualidade que já foi testada em uma centena de outros filmes e que funciona na tela. Angustia o espectador e engrandece, de alguma forma, a narrativa.

No entanto, por culpa do roteiro ou do livro no qual o filme foi baseado, Um Pequeno Favor se perde completamente na sua segunda metade. O clima excêntrico e desconfiado da narrativa acaba cruzando a linha e se tornando, desastrosamente, tosco. É como se Garota Exemplar fosse de encontra à novela A Usurpadora. Feig, afinal, continua tentando manter o thriller doméstico e a tensão constante, enquanto a história ganha reviravoltas rocambolescas, motivações rasas para as personagens e conclusões pífias.

Sobre as reviravoltas, aliás: há tantas na trama -- e tão infundadas, em sua maioria -- que fica a sensação de que o longa-metragem, de 120 minutos, leva uma tarde inteira para chegar ao fim. E nada pior do que um filme que te faz olhar as horas frequentemente. Sinal de que alguma coisa, do outro lado da telona, não funcionou bem.

Há a possibilidade, ainda que remota, de que Feig tenha seguido, junto à sua roteirista, um caminho curioso de fazer uma espécie de paródia dos novos suspenses domésticos. Afinal, ao parar para ver sua filmografia, as comédias dominam: Caça-Fantasmas, As Bem Armadas, A Espiã que Sabia de Menos, Missão Madrinha de Casamento. Mas se era isso, há um erro absurdo na divulgação, que o vende como sendo o filme mais "sombrio" do diretor. Quem for pensando na carreira do diretor, para se divertir, pode se dar bem.

Numa das últimas cenas, aliás, há um acontecimento tão ridículo, tão fora de tom, que é difícil o espectador não ser sugado para fora do filme e se perguntar: o que está acontecendo aí? Chega a lembrar o terrível Paixão Obsessiva, com Katherine Heigl.

Ainda assim, Um Pequeno Favor é um filme fraco. As reviravoltas são rocambolescas e insistentes, sem causar impacto; as motivações das protagonistas são rasas; e a breguice toma conta da narrativa como um todo. Começa como Garota Exemplar e, infelizmente, termina como uma novela mexicana qualquer. Pode agradar alguns, que buscam alguma diversão, mas certamente irá decepcionar quem vai aos cinemas à procura de um suspense tenso. Nesse caso, melhor tirar o pó do filme de David Fincher.

 

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