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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Edna' é filme com boa história, mas técnica desanimadora


Não sei se a culpa é da Petra Costa, mas é dela que lembro quando vejo filmes brasileiros com narração sussurrada. É uma técnica que beira o insuportável, trafegando entre um trabalho ruim de som e um vídeo de ASMR. E, infelizmente, Edna é um filme que se perde justamente por conta dessa técnica ao pôr uma mulher forte, com marcas da vida, na condição de narradora.


Na trama, acompanhamos o dia a dia de Edna. Ela vive em uma terra em ruínas, em uma solidão triste, com marcas da guerra pela terra. Com uma narrativa lenta e contemplativa, acompanhamos essa rotina da protagonista-biografada enquanto ela lê trechos de seus escritos em um caderno intitulado A História da Minha Vida, que mistura memórias de guerrilhas e luta.


Numa narrativa híbrida que mistura real e imaginário, o longa-metragem sem dúvidas acerta na estética da coisa: é bonito, o preto e branco da fotografia faz sentido e há muitas imagens realmente deslumbrantes sobre o que está sendo contado. Somos impactados visualmente, como já ocorreu em outros trabalhos do cineasta Eryk Rocha, como em Breve Miragem do Sol.

Além disso, há força na história de Edna. Sua jornada é interessante e, mesmo a mistura de ficção com documental encaixa bem dentro da história. Não é algo que puxa o filme pra baixo.


No entanto, novamente, é difícil embarcar na proposta de narração que o filme traz. É uma técnica que funciona em pouquíssimos casos, como em Democracia em Vertigem, quando há um trabalho mais atento ao som. Aqui, mesmo com um bom sistema de som em casa, grande parte das falas de Edna são incompreensíveis. São sussurros atropelados. Estragam a experiência.


Tudo bem que há, sim, uma preocupação em mexer com o sensorial do espectador o tempo todo. E é um objetivo louvável. Mas não adianta mexer com o sensorial se grande parte do que está sendo dito, em apenas pouco mais de 60 minutos de projeção, não se torna palatável. O mergulho, tão essencial nesse tipo de narrativa, não acontece. E tudo vai por água abaixo.


Talvez Edna seja um daqueles casos de filme que precisam, de qualquer maneira, da experiência do cinema. A importância do tema, falando sobre os conflitos envolvendo terra e reforma agrária na região da Amazônia, é inegável. Além disso, há força na história de Edna, uma mulher realmente magnética. Mas o tratamento não é bom. Talvez, em outra assistida nos cinemas.


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