
Ser duplamente representado num festival ou mostra de cinema tem seu lado bom e ruim. Pensando de maneira positiva, atrai mais atenção para o cineasta em questão -- mostra o poder não só de produzir dois longas em um só ano, como colocá-los em competição. Porém, logo surge aquelas comparações inevitáveis entre as duas peças: qual é a melhor, qual é a pior?
Hong Sang-soo está passando por esse mal na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O coreano está com dois filmes em competição: o excelente A Mulher que Fugiu e o apenas mediano Encontros. Com apenas 60 minutos de duração, o média-metragem conta com uma estrutura similar ao de A Mulher que Fugiu: três atos de um mesmo personagem.
Por aqui, o personagem em foco é Young-ho (Seok-ho Shin). No primeiro ato, vai ao encontro de seu pai, um médico acupunturista, mas é deixado esperando enquanto ele atende um ator famoso. No segundo, vai de encontro à sua namorada na capital da Alemanha, que foi para o país europeu estudar moda. Pra fechar, encontra sua mãe num almoço cheio de altos e baixos.

Nesses encontros e desencontros da vida, o média-metragem de Sang-soo vai se entranhando nas conversas e sugerindo alguns temas. Fala, principalmente no último ato, sobre o choque de gerações. Fala sobre paternidade. Fala, também, sobre essa necessidade que temos de ir ao encontro dos outros, mesmo quando não somos desejados. Enfim, sobre idas e vindas da vida.
Também há alguns cutucões de Sang-soo ao status quo da sociedade. Em determinado momento do terceiro ato de Encontros, o personagem de Seok-ho Shin fala sobre como a praia da Alemanha é muito mais limpa do que a praia da Coreia do Sul -- será mais uma Síndrome de Vira-Lata coreana ou apenas estou vendo muita coisa? Aqui, afinal, é um retrato completo.
No entanto, o média-metragem falha em suas intenções principalmente por não se fazer claro, não ir além. Ao contrário de A Mulher que Fugiu, que fala sobre uma jovem tentando escapar do sufocamento de sua rotina e vida matrimonial, aqui não encontramos um tema em comum a não ser esse jovem flanando de lá pra cá, com suas possibilidades financeiras abrindo portas.
Mas a sensação é a de que o cineasta coreano não consegue ir tão fundo como deveria. Fica ali na margem, até mesmo com boas intenções, mas não se faz ser ouvido -- não que Hong Sang-soo grite em algum momento de seu cinema, mas pelo menos não sussurra tão baixinho a ponto de ser inaudível. Faltou mais sensibilidade para conseguir passar a mensagem que queria.


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