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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Fédro', no Star+, é uma aula de atuação -- e da vida


Que dupla mais inusitada é José Celso Martinez Corrêa e Reynaldo Gianechini. O primeiro é pai-fundador do Teatro Oficina, monstro do teatro. O segundo é galã de televisão, global. Água com vinho. Mais inusitada ainda é a relação de Zé Celso com Gianechini: mestre e pupilo. Logo no começo de Fédro, filme original do Star+, essa relação é explorada. Pupilo reencontra mestre.


No âmago da narrativa dirigida e roteirizada por Marcelo Sebá, misturas. Há, por um lado, o documentário desse reencontro dessas duas figuras do palco. Dos palcos, na verdade. Do cinema, da televisão, dos teatros. Eles não se viam há 20 anos, quando Gianechini decidiu deixar o Teatro Oficina para trás e embarcar no sonho platinado. Sentiu, na época, que traía Zé Celso.


Só que Fédro não é só isso. Sebá, que faz sua estreia como diretor, brinca com linguagens. Há adaptações da peça homônima, que fala da relação de Sócrates e Platão -- com associação óbvia de quem é o mestre e quem é o pupilo. Nesse espaço, há muito improviso, muita cena de orelhada. Nenhum dos dois se preparou para aquilo especificamente; a vida preparou mais.

O coração de Fédro, porém, está longe de ser a encenação. O protagonista do filme são os traços e fiapos da relação de Zé Celso com Gianechini. O pai-fundador do Oficina, ainda que pareça pentelho em alguns momentos, provoca o astro global o tempo todo. Instiga, provoca, cutuca. As expressão de Gianechini são impagáveis. Como escapar da sina de ter que ficar nu em cena?


Aos poucos, assim, mais do que falar da relação dos dois, Fédro transcende. Usa o relacionamento como fio narrativo para falar sobre atuação, sobre arte, sobre palco. E aí vira aula. Sebá proporciona um captação naturalista, deixando câmeras e luzes aparecendo, para que o filme seja "palco do palco". E não poderia ser melhor: Zé Celso provoca, Gianechini reage.


Fédro exala resistência. Fala de arte, sexo e nudez em tempos em que os valores se confundem. Gianechini sabe disso -- dos valores, dos tempos sombrios, da aula. E por isso cede. Quando cede, o longa-metragem mostra que um pequeno ato de rebeldia, mesmo que apenas dentro de sua cabeça, pode ser uma onda necessária. E o filme, enfim, consegue criar um maremoto.

 

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