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Difícil não despertar certa simpatia, logo de cara, com o documentário argentino Ficção Privada, selecionado para o É Tudo Verdade 2020. Afinal, o diretor Andrés Di Tella continua sua trilogia para mergulhar na vida da sua família. Já falou da mãe, do pai, das memórias e das fotos. Agora, neste novo capítulo, o cineasta mergulha nas cartas trocadas dos pais.
Inicialmente, além da simpatia, o longa-metragem emana sensibilidade. Afinal, com um estilo de filmagem muito característico, o diretor vai nos convidando a entrar na vida de sua própria família. Memórias, devaneios, trocas de mensagens, fotos. Tudo isso é exposto na tela em uma narrativa intimista, que instiga o espectador a ir além nessa trama familiar.
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No entanto, rapidamente, Di Tella cai na armadilha de transformar sua história sensível e intimista em uma narrativa sonolenta. Ainda que tenha certo vigor estético, o ritmo do filme é prejudicado rapidamente por algumas decisões pouco espertas de roteiro. O filme vai se arrastando e o que era sensível se torna chato, brega e até mesmo um pouco burocrático.
Ainda que os quinze minutos finais sejam emocionantes e permitam uma retomada da sensibilidade de outrora, não dá pra negar: aquele interesse inicial, tão franco e sincero no começo, se esvaiu. E o filme, por mais que acerte em alguns pontos, termina nesta derrapada sem nunca conseguir recuperar o que tinha mostrado ali, bem no começo.
Ficção Privada, assim, é um filme que poderia ser mais sensível, mais delicado, mais memorável -- como são os outros dois longas de Di Tella, que tem um foco cinematográfico tão parecido com o do brasileiro Cristiano Burlan. É um filme que tenta ser íntimo, delicado, sentimental. Mas que, no final, não passa de uma obra cansativa, sonolenta e não-memorável.
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