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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Fim de Festa' faz caminho oposto de 'Tatuagem'


É impossível não tecer paralelos entre Fim de Festa, novo filme do cineasta Hilton Lacerda, e Tatuagem, seu grande sucesso. Afinal, além deste último ser referência no trabalho do pernambucano, ele também é a origem da frutífera parceria entre o cineasta e o excelente ator Irandhir Santos -- que se repete agora, com o longa-metragem que estreia nesta quinta-feira, 3.


No entanto, as duas produções não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Tatuagem é um filme sobre um futuro positivo e cheio de possibilidades, trafegando no mar das narrativas provocativas, Fim de Festa é sobre aquela melancolia que surge após a euforia. É o período após as festas, onde bate o cansaço, dúvidas sobre o futuro. O que nos aguarda, afinal? Vale a espera?


Para acompanhar esse clima, conta-se a história do policial Breno (Irandhir), um homem melancólico que precisa resolver um caso de assassinato logo após o Carnaval. Ao mesmo tempo, tem que lidar com o filho Breninho (Gustavo Patriota) e a estadia da sobrinha Penha (Amanda Beça) e de um rapaz (Leandro Villa) e a namorada (Safira Moreira), frutos do Carnaval.


Com um ar que mistura João Ubaldo Ribeiro, Rubem Braga e Nelson Rodrigues, a história se debruça sobre todos esses tipos -- com especial atenção, claro, para o personagem de Irandhir -- e vai se aprofundando nas dores, nas melancolias, nos sofrimentos. Enquanto Tatuagem dava um indicativo que as coisas iam melhorar após perrengues, Fim de Festa traz o olhar negativo.

O cansaço pós-Carnaval, mais do que afetar a vida desses personagens, afeta o senso de direção de cada um deles. Estão perdidos e flanam por aí, cada um à sua maneira. Breno parece estar cansado e desanimado demais para resolver o assassinato. Os jovens adultos, enquanto isso, navegam seu rumo e se firmam como uma nova burguesia cheia de mimos, sem sacrifício.


Tudo isso é válido dentro da narrativa, ainda mais com a direção elegante de Hilton Lacerda -- apesar de Tatuagem ser um filme de opiniões divididas dentre a crítica, é inegável sua qualidade e seu senso de honestidade na hora de contar uma história. Tudo transpira verdade, fala com as pessoas. Os sentimentos do País de hoje estão retratados nas feições duras de Breno. Dói ver.


No entanto, as coisas se perdem um pouco enquanto a história avança. São várias as tramas aqui: a dor do Breno pai, o assassinato e a investigação, os sentimentos conflitantes do Breno filho, a falta de rumo na vida dos jovens adultos, a sociedade purista e cheia de cuidados. São muitas coisas que Lacerda quer retratar. E tudo acaba se tornando superficial, de certa forma.


Claro: nada ali é gratuito. Estamos falando de Hilton Lacerda e seu ótimo cinema novíssimo. Ele sabe como escrever uma história, como transportá-la para o cinema. Mas as coisas ficam pendentes, ficam sobrando. A sensação é de que tudo é resolvido às pressas. A forma que o crime reverbera na trama, por exemplo, tinha espaço para ser algo muito mais potente, intenso.


Fim de Festa, no final das contas, acaba deixando a melancolia e o cansaço tomar conta de tudo. Mais do que acompanhar a história, esses sentimentos coroam a narrativa, derrubam os significados e, de alguma forma, perdem o espectador. A intensidade poderia ser mais marcante. A história, mais memorável. E o filme, no fim das contas, muito mais Tatuagem.


Num panorama geral, ainda precisando de mais Tatuagem. Mas precisamos de Fim de Festa?

 
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