Imagine uma história de Manoel Carlos. Sim, o novelista. Traições, problemas humanos, famílias repletas de problemas, doenças. Do outro lado, imagine o cineasta coreano Hong Sang-soo (A Câmera de Claire) dirigindo essa história, com seus maneirismos e estilo bem particular. Esta é a definição perfeita de Frankie, filme franco-português que estreia nesta quinta-feira, 20.
Dirigido pelo americano Ira Sachs (O Amor é Estranho), o longa-metragem acompanha a história de uma atriz (Isabelle Huppert) que está à beira da morte por conta de um câncer. Prevendo as complicações que virão, ela reúne o marido (Brendan Gleeson), os filhos, a neta, a amiga (Marisa Tomei) em Portugal para falar sobre a vida, fazer alguns arranjos e entender como será o futuro.
Ou seja: é um filme em que o cineasta constrói as tramas e problemas familiares conforme passeia pela cidade, explora sua geografia e seus pontos turísticos e vai demonstrando emoção.
No entanto, pela tentativa evidente de tentar chegar perto de Sang-soo, fica impossível não tecer comparações. E, apesar de ser talentoso, Sachs não consegue sair da homenagem e traçar desafios e estilos particulares. Frankie acaba se tornando um filme sem personalidade, apesar da fotografia interessante de Rui Poças (Zama) -- branca, chapada, clara, muito natural e real.
E apesar de estar bem, é até estranho ver Huppert como protagonista. É quase uma repetição da personagem de um dos filmes mais recentes de Sang-soo, o incipiente A Câmera de Claire.
Além disso, os dramas e acontecimentos envolvendo os personagens se acumulam e fica difícil acompanhar tudo. Há a filha com problemas conjugais, a neta com uma paixonite de verão, o filho sem futuro, a amiga perdida, o marido depressivo. São histórias demais -- e atores excelentes sobrando -- que não conseguem encontrar um encaixe para que avancem juntas.
Uma pena, já que Huppert está dedicada como sempre, Marisa Tomei está encantadora como nunca, Brendan Gleeson está profundo e melodramático e o resto do elenco está bem operante.
Fica a sensação de que tudo ali poderia ser melhor explorado. A morte eminente da protagonista, as diferentes nacionalidades dos atores e personagens, o misticismo e religiosidade de Portugal. Tudo apenas resvala em algo mais profundo, sem mergulhar de cabeça em momento algum. Uma história que emula estilos não pode ser óbvia, confortável.
No final, ainda que o frame de conclusão seja de um deslumbramento inacreditável em termos de fotografia e significado, fica a sensação de algo faltando. O vazio alcança o público e pouco fica na memória. Frankie, assim, é daqueles filmes pouco memoráveis, que daqui alguns anos não serão mais lembrados. Afinal, se quiser ver uma história assim, melhor ver Hong Sang-soo.
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