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  • Foto do escritorJoão Pedro Yazaki

Crítica: 'Free Guy' abraça o mundo dos games e da cultura pop em comédia divertida

Atualizado: 11 de jan. de 2022


A mistura entre cinema e videogame vem sendo bastante complicada nos últimos anos. Até agora, nenhum filme baseado em um game conseguiu fazer sucesso com o público e muito menos com as críticas. Mortal Kombat já está na lista dos piores de 2021 e anteriormente tiveram outras bombas, como Warcraft, Assassin's Creed e Tomb Raider.


No entanto, quando se trata de longas sobre esse universo dos games e da cultura pop de forma geral, as coisas mudam bastante. Jogador Nº 1 (2018) e Scott Pilgrim (2010) são duas obras marcantes no cinema, que ganharam espaço no coração de muita gente por reverenciarem tudo o que existe de mais especial no mundo dos jogos, quadrinhos, filmes de super-herói e brinquedos, com histórias divertidas, envolventes e de personagens carismáticos.


Em Free Guy: Assumindo o Controle não foi diferente. Por mais que a história seja bobinha, repleta de clichês e incoerências, nos deparamos com um filme que entrega exatamente o que se propõe a ser, sem mais nem menos, isto é, uma comédia "Sessão da Tarde" divertida e despretensiosa.


Dirigido por Shawn Levy, o filme conta a história de Guy (Ryan Reynolds), um homem feliz e ingênuo, mas que tem uma vida pacata trabalhando em um banco e fazendo as mesmas coisas todos os dias. Um dia, ele acaba descobrindo que, na verdade, ele é um NPC (sigla em inglês para 'personagem não-jogável') de um videogame online chamado Free City e acaba conhecendo uma jogadora do mundo real, Millie (Jodie Comer), pela qual se apaixona e quer conquistá-la. No entanto, o que Guy não sabe é que o jogo está a poucos dias de ser desligado, e Millie, junto ao seu parceiro Keys (Joe Keery), está em uma missão contra o tempo para desvendar os segredos sujos da empresa multimilionária por trás de Free City.


A narrativa segue a linha de raciocínio de sempre dos filmes hollywoodianos, sem surpresas, reviravoltas ou subtextos. Neste caso, não é necessariamente ruim. Como dito antes, o filme abraça a proposta e "se joga" na aventura sem medo. Por isso, mesmo sendo tudo previsível e óbvio, não deixa de ser um entretenimento envolvente, principalmente para aqueles que gostam de acompanhar esse universo fascinante dos videogames e da cultura pop.


Todo o contexto é baseado em alguns dos games mais populares atualmente, sendo o principal deles o Grand Theft Auto V Online, o famoso GTA. Nesse tipo de jogo, os jogadores se encontram em um enorme mundo aberto, no qual é possível criar e customizar o seu personagem; subir de nível; fazer missões do tipo assalto a bancos e lojas; ter diversos estilos de armas, roupas, carros, veículos aéreos e casas; ser perseguido pela polícia; fazer amigos ou inimigos com outros jogadores e muito mais.

As possibilidades variam, e Free Guy explora isso muito bem, trazendo o protagonista como uma das pequenas peças que compõem o jogo Free City como uma forma de ambientar o espectador nesse caos, além de, claro, orientar os caminhos do enredo. As interações que vemos de Guy e os outros personagens com esse mundo são divertidas de assistir. Toda a ambientação, os efeitos especiais e inclusive as cenas de ação são trabalhados de forma bastante competente, algo que definitivamente contribui para a diversão.


Além disso, outros jogos mais recentes da indústria também serviram como inspirações, porém não exatamente em relação aos elementos que os compõem, mas sim nas práticas comerciais polêmicas das empresas desenvolvedoras. Aí se encontra o envolvimento de Millie e Keys nessa história.


Ambos estão tentando desmascarar o presidente da organização e o principal criador de Free City, Antwan (interpretado por Taika Waititi). Assim como o resto, o arco narrativo desses personagens é clichê e com um desenvolvimento básico, nada diferente do que já conhecemos. Contudo, os atores estão entregues em suas performances, algo que dá um charme a mais para os personagens. Porém, surpreendentemente, o trabalho de Taika Waititi, que costuma desempenhar bons papéis, foi de longe a pior coisa do filme. Sua atuação é forçada e conseguiu se destoar completamente do enredo, que já é bem infantil. A tentativa do cineasta em interpretar um vilão canastrão foi um tremendo tiro no pé.


Ryan Reynolds, por sua vez, é o Ryan Reynolds sempre. O ator não é conhecido por saber diversificar seus personagens, porém aqui seu carisma casa muito bem com a proposta da narrativa. Assim como Deadpool, Guy é um daqueles personagens que só conseguimos imaginar um ator fazendo.


Vale a pena ressaltar: apesar de Free Guy se tratar de um longa-metragem que se assume como comédia boba, ele não deixa de ser uma obra exclusivamente comercial. Fica bem evidente pela estrutura da narrativa, pela caracterização dos personagens e pelo tom infantil até demais na maior parte do tempo — uma infelicidade, pois tinha espaço para ironia e críticas sobre a indústria dos games. O filme é mais dedicado a um público mais jovial do que adultos, logo muitas piadas podem não funcionar para os mais velhos ou para aqueles que não estão familiarizados com as referências da cultura pop.


Evidentemente, como se trata de um produto sobre 'nerdzice' e cultura geek, é óbvio que o mar de referências não poderia ficar de fora. O fan service aqui é de fato bem exagerado, mas pelo menos ele é utilizado de maneira muito mais inteligente do que nas produções atuais da Marvel e DC. Ao invés das referências sobre a cultura pop serem jogadas aleatoriamente sem nexo algum, aqui a maioria realmente faz parte da narrativa.


Portanto, Free Guy: Assumindo o Controle funciona bem como uma comédia leve e divertida, que garante um bom entretenimento. Alguns pontos negativos acabam atrapalhando, como a narrativa clichê sem surpresas, o humor um tanto infantil, algumas atuações exageradas e por ser bastante longo. Poderia ter tido 20 minutos a menos, facilmente. No entanto, ao menos Free Guy oferece um frescor para os filmes de videogames sem precisar ser algo grandioso, entregando exatamente o que oferece na medida certa. No fim das contas, vale a pena assistir.

 

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