Que saudades eu tenho, às vezes, de simplesmente sentar no sofá, ligar a televisão e ver um filme de suspense sem pensar muito no que está acontecendo, absorvendo situações e sustos para passar o tempo e me divertir. A sensação que eu tenho é de que, nos últimos anos, até mesmo esse cinema precisou seguir por um caminho espetaculoso, estragando a experiência.
Por isso, é tão bom ver um filme como Fuja. Ainda que seja original da Hulu nos Estados Unidos, o longa-metragem chega ao Brasil nesta sexta-feira, 2, pelas mãos da Netflix. E que boa compra do serviço de streaming. Dirigido por Aneesh Chaganty, diretor do excelente Buscando..., este novo longa-metragem conta uma história de "gato e rato". De fuga, desespero e sobrevivência.
No centro da trama, a adolescente Chloe (Kiera Allen). Deficiente física, ela vive em uma cadeira de rodas e, com isso, acaba se tornando extremamente dependente da mãe, Diane (Sarah Paulson). No entanto, como numa trama de obsessão como Misery, logo vemos que as coisas não são exatamente como o esperado e Fuja, numa boa virada, ganha camadas de suspense.
Com ótimas atuações de Allen e de Paulson (de Vidro), fica fácil mergulhar de cabeça na trama. Você fica desesperado com a situação que se desenha, sempre segurando mais e mais o fôlego em momentos-chave para a protagonista. Duas cenas em específico, uma numa farmácia e outra em telhado, são espetaculares. Ainda mais sabendo que a atriz também é deficiente.
Como disse no começo, é um filme sem muita enrolação, sem blá-blá-blá. Aneesh, depois da excelente performance em Buscando..., coloca o pé no chão como realizador e traz uma história que nos deixa aflito, sem efeitos ou sacadas geniais. E tudo bem. Muitas vezes, queremos apenas sentar no sofá e nos deixar levar por algumas histórias que brincam com a realidade.
Uma pena, porém, que o filme acabe se encaminhando para um terreno pouquíssimo original. É impossível, para quem conhece essa outra história, não lembrar da relação de Dee Dee e Gypsy -- um crime real, e chocante, que já foi retratado em outra história do Hulu, na série The Act. É praticamente a mesma coisa, sem tirar nem pôr. Aneesh, sem dúvidas, poderia ter inovado mais.
Enfim. Fuja, ainda que tenha esse grave lampejo de criatividade, ainda é um suspense digno de nota. Intenso, de tirar o fôlego, com alguns momentos realmente desesperadores e uma protagonista que merece mais atenção nos cinemas. Quer ver um filme de suspense sem ter que pensar muito, apenas pra ver o tempo passar bem? Então vá ver Fuja. Vale muito a pena.
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